terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Truques da mente

Sempre achei que os sonhos (aqueles filmes que passam na nossa cabeça enquanto dormimos) são uma espécie de manta de retalhos de restinhos de lugares, momentos, sentimentos, pessoas, ideias, medos, esperanças; tudo o que fomos, somos e poderemos vir a ser. Uma manta que é como um quadro, uma autobiografia inadvertida de nós. E ao fim de trinta e poucos anos a sonhar, ainda assim eles não cessam de me surpreender.
Eis senão quando que, há umas noites atrás, entra passeando-se sobre a minha manta um velho amigo. Daqueles que a vida, as circunstâncias, alguns erros e alguns corações verdes se encarregam de arrancar no nosso caminho e afastam para longe. Passei anos sem pensar nele, neste bom bom amigo, que me deu tantas horas felizes, tanto riso, tanto conforto. A quem dei o mesmo. E assim, de repente, sem justificação aparente, ele aparece-me pelo sonho dentro como se o tempo não tivesse passado. Para me mostrar uma coisa. Que lhe sinto a falta. Que numa altura em que acontecem coisas importantes, o lugar dele talvez ainda esteja afinal por ocupar. Que se calhar ele ainda devia andar por aqui, pela minha vida. Mas não. A vida não é assim. E hoje, ele só anda pelos meus sonhos. Talvez só pudesse ser mesmo assim. Que pena.