domingo, 20 de janeiro de 2008

Felicidade em variedade



Numa espécie como a nossa, com a nossa capacidade mental, seria de esperar que facilitássemos a vida a nós próprios. Bom, talvez o façamos em certo aspecto. Somos cada vez mais permissivos a nível ético, observamos passivos todas as infracções, a má-formação alheia e a nossa própria.
Contudo, somos cada vez mais exigentes a nível estético. E é uma exigência estúpida. Inventou-se um padrão, e agora temos que ser todos iguais. Os mesmos narizes, as mesmas bocas, os mesmos rabos, as mesmas mamas, as mesmas alturas, as mesmas ancas, as mesmas idades. De preferência, tudo ao mínimo, excepto a altura e a boca... A magreza tornou-se um dogma, assim como ser gordo foi noutros tempos, mas agora em dimensões muito mais extremas e globais.
As mulheres são, incrivelmente, os seus maiores polícias. E não se perdoam, vêem-se do dobro do tamanho que realmente são, obrigando-se a atravessar todo o género de processos, dos comprimidos aos batidos, da fome ao Talon. Admiro-lhes a força de vontade, mas confunde-me aquela estranha esperança de que a felicidade está no fim daquela dieta. Pior do que isso, espanta-me que nos tenhamos tornado tão intolerantes justamente naquilo com que já nascemos. Ou seja, naquilo que mais difícil, se não impossível, é de mudar. Pelo menos de forma definitiva.
As lojas fazem-lhes a vontade. Lugares como a Zara, a Mango, a Bershka e outros, são um perfeito gozo à constituição natural do ser-humano. E quem acha que aquilo é mesmo um XL, vá dar uma voltinha à Europa, porque anda um bocado desligado da realidade...
Na televisão, também lhes fazem a vontade. Os programas mostram a felicidade que vem agarrada ao perfeito sacrifício da carne, e atravessam-se verdadeiras torturas simplesmente para entrar dentro do padrão. Aquelas pessoas choram lágrimas sinceras por vidas permanentemente atormentadas pelo escárnio dos outros, e portanto são elas que mudam para agradar e ser aceites por quem sempre as maltratou. Em vez de serem os outros, os intolerantes, a mudar.
Pior ainda parece ser envelhecer. De facto, devia ser proibido. Porque rugas, só mesmo nos recém-nascidos. E à medida que vão tendo mais anos, olham para as mais novas como se fossem elas as donas da juventude eterna, e não fossem mudar nunca, como lhes aconteceu a elas.
Uma coisa é ter saúde. Outra é simplesmente não aceitar a diferença. Não amar a diferença. Cada vez mais tornamos a vida mais difícil para nós próprios e, pior ainda, para os nossos filhos. Parece que só estaremos satisfeitas quando formos todas meio plásticas e paus de virar tripas.
Pela saúde, faz-se exercício e come-se bem, de forma equilibrada. Agora se estas mulheres pensam que vão ter ou manter um homem, que vão ser felizes e bem sucedidas, só porque se assemelham a uma tábua de passar a ferro... pensem outra vez.
Por alguma razão se diz “se queres amor para sempre, casa-te com alguém com quem gostes de conversar.” A diferença é o melhor do ser-humano. E recomenda-se.

1 Comments:

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    semelokertes marchimundui

    By Anonymous Anónimo, at 7:27 da manhã  

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