sábado, 19 de janeiro de 2008

Par ou Ímpar

Para a maioria dos comuns mortais, é impressionantemente difícil encontrar um par. A sensação de depender de um acaso, da sorte, de uma eventualidade, é enorme. Uma espécie de dança das cadeiras, em que nos apavoramos com a ideia de a música parar e acabarmos sem lugar onde sentar. É muitas vezes nessa altura que mais damos valor ao par. Aquele com quem vamos dormir, fazer amor, ir ao supermercado, jantar, passear, conhecer lugares novos. Aquele que vamos tratar tão bem, que vamos sempre estimar tanto, e com quem até as tarefas mais rotineiras vão parecer sempre especiais. Ainda não o conhecemos e já sabemos o quanto nos vamos dedicar sempre a ele.
Os que não têm par olham normalmente com alguma inveja (natural) e algum sentido de injustiça, para os pares. Os que tiveram sorte - muita sorte - e encontraram-se.
Mas começo a perceber que, para muitos pares, o que se passa lá dentro não é bem aquilo que imaginámos. Fico surpresa por perceber que, pelos vistos, a maioria dos pares não dá afinal um ao outro metade daquilo que podia dar. Não sei bem o que é. Se a rotina, os filhos, a falta de tempo, a habituação, o constrangimento, o garantido, a preguiça, o egoísmo, que serve de desculpa. Mas parece que há por aí muita gente que não se dedica a proporcionar prazer ao seu par. E não, não estou a falar de sexo. Pelo menos não só.
Pôr aquela música ao fim da noite, e anichar-se na cama a conversar, fazer uma massagem relaxante ao par que chegou cansado a casa, preparar-lhe a banheira com água quentinha e perfumada para o par descontrair lá dentro, apagar as luzes, acender umas velas e beijar sem ser a correr, beijar-lhe os olhos, fazer um cafuné... Há tanta, tanta coisa que podemos proporcionar ao nosso par. Temos tanta coisa ao nosso alcance, que não custa dinheiro, e que dá a quem amamos a melhor sensação do mundo: a sensação de ser amado.
Jovens ou menos jovens, mais ou menos “modernos”, com mais ou menos estilo, mais ou menos tímidos, fico chocada com a quantidade de pares que afinal existem sem tirarem partido daquilo que só fazer parte de um par pode proporcionar. Aquilo que os outros, os sem-par, tanto desejavam para si.
Preocupamo-nos tanto em alcançar as coisas que custam mais dinheiro, que nos tiram mais tempo, que nos deixam mais exaustos e impacientes. Quando o melhor do mundo já lá está em casa. E a quem podemos tão facilmente proporcionar... o melhor do mundo.
A verdade é que não entendo como é que, podendo sentir toda esta felicidade, todo este prazer, quer a dar, quer a receber, a maioria das pessoas prefere simplesmente ficar à margem de ser par, e viver no essencial com se fosse ímpar.