quarta-feira, 7 de julho de 2004


Era uma das coisas que ela mais gostava. Quando ele se esquecia. Quando ele se esquecia de que tinha vivido grande parte da sua vida sem ela. Às vezes, quando ele falava de lugares onde tinha ido, momentos que tinha vivido, falava como se ela também tivesse estado lá. Por vezes ele ficava à espera que ela confirmasse as suas palavras. E ela olhava-o com os seus grandes olhos, sem saber o que pensar. Da primeira vez zangou-se. Porque ele não se lembrava que ela não tinha estado lá. Depois percebeu o que isso significava.
Ela completara-o. E isso estava tão dentro dele que já não pensava que alguma vez pudesse ter sido diferente. Tinha pegado nela e preenchido partes do seu passado com ela. Ele não tinha a certeza se tinha passado a ser dois, ou se finalmente era um único, completo. Também não importava. Esquecia-se era que durante muito tempo não fora assim.
E quando ele se esquecia, ela sabia. Sabia que era amada, da forma mais genuína, da forma mais pura. E mesmo nos dias em que ela questionava toda a sua vida, se ele se esquecia, ela lembrava-se. A vida dera-lhe a maior dádiva possível.