segunda-feira, 28 de junho de 2004

Digam-me que há mais...!


Trabalho no 9º andar. Há dias, acabados de chegar do almoço, subi no elevador com um colega. À medida que íamos passando os andares, ele ia carregando nos botões que lhes correspondiam. Passámos o primeiro, ele carregou no primeiro, passámos o segundo, carregou no segundo, e assim por diante, até chegarmos ao 9º andar, onde ainda carregou no 10º andar, o último do edifício. Confesso que demorei uns instantes a perceber o objectivo. E a sua grande missão, qual era? Fazer com que a próxima pessoa que descesse no elevador tivesse que parar em todos os andares sem excepção, até chegar ao rés-do-chão. Observei perplexa o ar satisfeito e orgulhoso com que ele ia carregando em cada botão. O sorriso esperto, como se aquilo tivesse muita piada. Como se fosse uma piada esperta!
Confesso. Não fui capaz de ver o interesse em pregar uma partida a alguém que não se conhece, quando ainda por cima nem sequer se vai lá estar para ver o resultado. Mas ele cumpriu estoicamente a sua missão e saiu como um pavão emproado, como quem tinha sido “supé-giroooo”!
E quando eu me deixei ficar ao pé do elevador, com a porta aberta, para desmarcar os botões todos, ainda me olhou num misto de censura e pena, “desmancha-prazeres, não sabe reconhecer uma piada tão gira! Há pessoas que nunca vão chegar mesmo ao meu nível de intelecto...”
Ok, digam-me que há mais na vida do que isto. Digam-me que há coisas que realmente têm piada! Digam-me que nem toda a gente ocupa os seus minutos livres a aperfeiçoar a arte da idiotice. Digam-me que há pessoas que não tiram aquela satisfação salivada só pela ideia de poderem atrapalhar um bocadinho a vida dos outros.
Mas ele tinha razão. Há coisas que eu nunca vou perceber mesmo...