terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A água com gás

Mudar é algo que a maior parte das pessoas diz não ser inerente ao ser humano. Que podemos até fingir durante algum tempo, adaptarmo-nos por uns períodos a determinada circunstância. Mas que no âmago na verdade nunca mudamos.
Eis que a velha água com gás veio provar-me o contrário. Até há pouco tempo, não percebia o interesse naquela a que chamam água das pedras. Sabia-me a qualquer coisa amarga e desagradável, e só a tomava como remédio, das felizmente poucas vezes em que o estômago esteve ressentido. E dificilmente chegava ao fim de uma mísera garrafa. Subitamente - já nem me lembro em que ocasião se deu a incrível mudança - sou viciada em água com gás. Quase não passam dois dias sem beber uma. E não tem nada a ver com a recente moda de águas com gás de todos os sabores. Até porque isso é só uma maneira diferente de trazer à vida os sumos gaseificados. O que me sabe pela vida é aquela garrafinha pura de água sem qualquer sabor adicional, cheia de bolhinhas. A simples água com gás. Há alturas em que sinto mesmo aquela necessidade de ir beber uma, e não há mais nada que a consiga substituir. Nem mesmo a Coca Cola, de que sempre fui tão fã.
Pois só pode ser da idade. Conheço mais gente que sofreu esta guinada súbita, do desdém à avidez pela bebida. Talvez seja a entrada nos 30? Não vejo qualquer relação. Mas é assim que esta casa passou a ter sempre um stock delas. Das maravilhosas garrafinhas de água com gás. Até a água simples parece já não ter o mesmo encanto, ou o mesmo potencial para saciar.
Mas a idade tem destas coisas. O que antes detestávamos, de repente adoramos. Como tomate, no meu caso, ou as folhas mais claras da alface. Se pensar bem, quantas águas com gás cada um de nós não tem nas nossas vidas? É como o anúncio. Sempre dissémos que não íamos querer ter filhos, ou que nunca íamos querer um trabalho tranquilo, ou uma casa no campo, ou ansiar por uma bela noite passada no conforto do sofá. É bom perceber que afinal não estamos parados, que mudamos e nem sempre é por obrigação. Às vezes acontece espontaneamente. O que parece desagradável em determinados anos, passa a saber maravilhosamente mais tarde. E o que parecia tão fixe passa às vezes a parecer tão fútil e desnecessário.
Brindemos pois à mudança espontanea! Com água com gás.

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