sábado, 15 de março de 2008

Virados para a frente

Talvez seja um cliché, mas os clichés têm a tendência a ser verdade. Tenho percebido que há por aí muita gente que vive no futuro. Concentrados no facto de que o tempo escoa. Receosos com a velocidade com que o tempo passa. Apavorados com a ideia de que talvez nunca realizem os seus sonhos, de que talvez não encontrem o que procuram. Ao invés de construírem, procurarem, perdem-se no medo por aquilo que não podem controlar: a passagem do tempo.
Vivem virados para a frente, nem percebem o momento em que têm os pés. Que é o mesmo que dizer que não vivem de facto. Que estão distraídos e nem notam a vida a passar-lhes ao lado.
O futuro não está nos sonhos nem nos medos nem nas palavras de uma vidente. O futuro está nas nossas acções do dia de hoje. Há uma parte do futuro que não está mesmo nas mãos de ninguém. Mas outra parte depende grandemente do que fazemos hoje. E é aí que a vida vale tudo o que vale. É aí que ela tem todo o brilho que lhe quisermos dar. Concentrarmo-nos no fim das coisas, no curso natural da vida, no escoar do tempo, nas imponderabilidades, é impregnar com uma carga negativa todos os dias em que temos a felicidade de existir.
Todos temos o direito de sentir medo, de vez em quando, de pensar demasiado, de sobre-racionalizar. Mas justamente por sentirmos sempre que o tempo é pouco, temos o dever de o agarrar com as duas mãos, e de viver para o dia. De construir, de rir, de amar, de sermos nós próprios. De nos entregarmos à vida sem timidez. Virados para o agora. Já. Para o depois ser ainda melhor.

1 Comments:

Enviar um comentário

<< Home