quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Massa para o Natal?

Todos os anos sinto a mesma coisa. O telemóvel apita com uma mensagem, abro-a e dou de caras com mais uma daquelas mensagens de massa, que alguém envia exactamente igual para todos os que conhece. Talvez seja ingratidão, porque o importante é que se lembrem de nós… Mas confesso que me desaponta. Talvez eu seja mesmo apenas mais um fio de esparguete, da massa de gente que aquela pessoa tem na agenda telefónica. Mas ainda assim, sou um fio com individualidade, com características específicas, e a minha vida não é igual à de todos os outros, nem a dos outros igual à minha. Parece-me mais um despachanço, para não pesar na consciência não ter dito nada, e resolver a coisa sem muito trabalho nem custos. Mas a verdade é que cada um está a viver um Natal diferente e tem expectativas diferentes para o novo ano. A Lena e o Ricardo ambos perderam o pai há pouco tempo, a Lurdes tem o sonho antigo de engravidar, o João vai mudar de emprego e está ansioso, o Ivo passa o Natal sozinho com os pais, a Mariana sozinha com a mãe, longe do resto da família e sonha encontrar o seu grande amor, a Zé esteve no hospital, a Eva vai finalmente voltar à Austrália, a Sofia finalmente ultrapassou as dificuldades e vai ter os pais com ela em Londres. Cada um é uma pessoa, em situação diferente, e com sentimentos diferentes. E é óbvio que eu já lhes desejo “tudo de bom, e que todos os seus desejos se realizem”, o ano inteiro.
Se há algo que faz sentido nesta época do ano é personalizar, dedicar, ouvir uma voz do outro lado do telefone, dizer algo que seja apenas para “aquela” pessoa.
As mensagens “chapa 10” parecem-me sempre vazias, ôcas, sem sentimento. Gostava mais de algo que me fizesse sorrir porque me significou algo pessoalmente. Assim como gosto de pensar que alguém se sentiu acarinhado por algo que lhe disse. De outra forma, talvez valha mais a pena gastar os cêntimos todos da chapa 10 numa doação a uma instituição, ou numa prendinha a alguém que não as tenha.
Não gosto desta época de despersonalização e massificação. Estaremos assim tããão ocupados que não possamos escrever ou dizer algo pessoal? Mesmo que de longe sejamos uma massa indistinta, ao perto somos fios de esparguete com vida única. E cada um tem a obrigação – não, o prazer – de nos saber apreciar e distinguir. De resto, massa para mim, só no prato. E nem sequer é na ceia de Natal.