sexta-feira, 11 de junho de 2004

Orgulhos tolos?


Entro na minha rua e há uma onda de verde e vermelho nas janelas, nos carros, nas cabeças e nos troncos das pessoas, parece-me bem até no coração destas gentes que há muito tempo não se lembravam que eram portuguesas. A minha rua repete-se por aí, pelo país fora. E embora eu não possa ver todas essas ruas, sinto qualquer coisa. Sinto estranhamente no ar uma pertença. Algo que nestes anos de vida que vou juntando, nunca tinha sentido. Não interessa se o Kinas parece uma versão do Dragon Ball dos anos 50, não interessa se o verde e o vermelho até não combinam nada, não interessa se os castelos das nossas bandeiras parecem pagodes chineses, não interessa. De repente todos se lembraram que são portugueses e já ninguém tem vergonha. Pelo contrário, sente-se orgulho. E eu, um bocadinho virgem deste sentimento, deixo-me contagiar. Porque gosto. Gosto que as pessoas gostem de ser de Portugal, gosto que gostem de o exibir. E se cá dentro sabemos que somos um povinho ainda muito “zé”, lá para fora somos tudo o que há de melhor (que também o temos). Que ninguém diga mal de nós! Somos os maiores! E agrada-me que o clubismo tenha dado lugar a uma força maior, ainda que temporária.
O pior é se o Figo falha um penalty, é se o Ricardo leva um frango, é se a Espanha vence a Portugal, é se nos ficamos pelas primeiras fases. E pronto, lá cai por terra o orgulho nacional, lá vem o atirar culpas ao treinador, aos jogadores que falharam porque são os do Benfica, ao guarda-redes porque não é o Vitor Baía...
Mas vou deixar-me ir um pouco nesta onda que nunca tinha batido com tanta força na minha praia. Que há muitos anos não banhava assim estas costas. Pena é que na crista desta onda só venha uma bola de futebol.