segunda-feira, 2 de outubro de 2006

O medo da felicidade

Todos nós temos coisas com que sonhamos há muito. Desejos que se mantêm com o passar dos anos, ainda que o tempo lhes esbata a intensidade, ou pelo menos a disfarce. Mas a mente joga de forma curiosa, manipula-se a si mesma, e com os seus mecanismos de autodefesa, é capaz de se fazer a si mesma acreditar nas coisas mais contrárias àquilo que ela própria crê. É assim que ela se ensina a si mesma que não nascemos para determinadas coisas, que não merecemos experimentar determinadas situações, que não merecemos viver determinados momentos. Com o tempo, aprendemos tão bem a lição, que este ensinamento passa a realidade. E somos capazes de encontrar uma série de argumentos que justificam não merecermos a realização do nosso sonho. E por muito disparatados que sejam, facilitam a nossa vivência com aqueles desejos indefinidamente por concretizar. É uma razão cimentada, que nos ajuda a pôr para trás o que não foi, e é mais fácil se acreditarmos que é para “nunca” ser.
Mas às vezes vem a realidade e subitamente contraria este conformismo mentiroso. E não sabemos bem o que nos atingiu. Como é que vamos viver aquilo que acreditamos que não merecemos? Como é que vamos saber agir, no meio que algo que cremos que não nascemos para viver? A felicidade interna é imensa, mas está contida naquela caixinha minúscula onde guardámos o desejo, onde ele está, escondido, refreado, compactado. Às vezes já nem sabemos bem onde guardámos a chave. Por dentro uma felicidade imensa, por fora a apatia num rosto receoso, duvidoso. Porque ainda acreditamos na nossa mentira.
O mundo deu a volta, ficámos de pernas para o ar. A mente ainda nos diz que não. A surpresa da vida diz-nos que sim. É a sensação de estar fechado num ovo e nós, frágeis, temos que quebrar a casca. E voltar a acreditar que os momentos felizes podem acontecer a qualquer instante. Podem mesmo acontecer-nos a nós. E nós... temos direito a eles.

1 Comments:

  • Olá, passei por aqui e gostei. Gostei muito de ver o tributo ao Leroy. Tal como tu também não perdia 1 segundo que fosse da "FAME" e o Leroy era um dos meus preferidos talvez por ser tão irreverente.
    Boas recordações.

    By Blogger crispipe, at 5:03 da tarde  

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