sexta-feira, 20 de março de 2009

Melhor Amigo

Sempre detestei esta determinação. Oiço-a desde a escola primária, mas o pior é que hoje, com boa parte das pessoas que conheço nos seus trintas e quarentas, continuo a ouvi-la. Para além de achar o termo consideravelmente infantil, acho-o injusto. Está certo que é bom saber que alguém nos considera o seu melhor amigo, e é até uma forma de nos homenagearem. Mas e todos os outros? Quando se diz a um amigo: “Fui ao cinema com o meu melhor amigo”, estamos automaticamente a descer o primeiro de nível. Estamos oficialmente a informá-lo que há o amigo de primeira, e que ele – temos pena - se insere na categoria de amigo de segunda. Além disso, é um absurdo, porque as relações não são estanques, nem nós somos sempre os mesmos. Provavelmente, numa situação o amigo A é o mais indicado para nos acompanhar, e noutras o amigo B. Por exemplo, se eu quero desabafar, talvez fale com a amiga C porque ela sabe ouvir sem me julgar. Se me sinto sozinha e a precisar de rir, vou ter com o amigo H, porque ele me faz sentir leve e bem disposta. No trabalho, a minha melhor amiga é a R, porque encara os projectos da mesma forma que eu. E o J, porque pensamos da mesma maneira e gostamos das mesmas coisas. Haverá um que se sobreponha aos outros todos? Não. Cada um simplesmente me acompanha em facetas diferentes da vida. Todas elas importantes. Todos eles importantes.
Quando há tempos o J me disse de passagem que tinha falado com a “melhor amiga” sobre qualquer coisa, senti-me como um filme série B. Sou de segunda e parece que nunca vou chegar ao Oscar. Sou daqueles para ver em casa numa tarde de Domingo, enquanto a chuva cai lá fora.
Quando andava no ciclo, ainda tentei usar a expressão. Dava para perceber que quem tinha um “melhor amigo” ganhava um certo estatuto. Mas rapidamente erradiquei a expressão do meu vocabulário. Com o passar dos anos, o número de amigos reduz-se significativamente. É o processo natural e isso não me angustia. Os que ficam… são naturalmente todos os melhores.

2 Comments:

  • Espero sempre que esta expressão mude, mas parece impossível. Eu só acho que os amigos são o que~são. Não há classes, nem estatutos. Depois existem é os conhecidos, os borguistas e os colegas. Mas esses tem que lutar muito para chegar ao estatuto de amigo

    By Blogger Firehawk, at 2:54 da tarde  

  • Clarividência... muita!

    bjcs
    Ana A.

    By Blogger :), at 11:20 da tarde  

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