quarta-feira, 14 de julho de 2004

Será...?


De entre todas as perguntas para que não tenho resposta, se pudesse escolher uma para me esclarecerem seria provavelmente esta. Será que a confiança pode ser recuperada?
Isto das relações entre a espécie humana tem muito que se lhe diga. E passa pelas fases mais diversas e inacreditáveis. Ainda assim, o mais incrível parece ser a capacidade de resistência, num mundo e num estilo de vida em que a paciência morreu, em que a tolerância é moribunda, e a cedência é um elemento do coração com que já não se nasce. Eu ainda acredito que as relações são capazes de resistir a tudo. A tudo menos a perda de confiança. Percebi que a confiança não tem sete vidas, tem uma apenas, e frágil como o cristal. E se essa vida se vai, não há máquina de reanimação que lhe valha. Não me parece que a confiança tenha uma fase moribunda. Qualquer golpe lhe é fatal. E a ressuscitação é um milagre que teve a sua última incidência há mais de dois mil anos.
Será assim? Ou será possível acreditarmos no íntimo que uma pessoa cometeu um erro, que nunca voltará a cometer? Será possível olhar nos olhos de alguém e acreditar num arrependimento? Será que existe arrependimento de verdade? Ou quem escorrega uma vez, vai passar a vida toda a escorregar? Será que não nos podemos dar ao luxo de acreditar? Ou será que é nossa obrigação dar segundas oportunidades? Esta parece ser uma dúvida recorrente, na vida. E no meio disto tudo, acho que é a nossa memória que nos apanha sempre. Nós não sabemos esquecer. Principalmente as coisas más. Parece que conseguem ter mais força e mais peso que as boas. E é esta persistência da memória que nos trama. Fica para sempre, como um alarme que toca à mínima vibração.
Então se não podemos esquecer, será que existe em nós a capacidade de aceitar uma pessoa, quando ela está carregada com o peso de uma desilusão? Será possível perdoar e voltar ao ponto de partida? Pois. “Será...” Eu bem disse que não tinha a resposta para isto.