Pontos Negros
“Olha, ainda queres esta folha?” – perguntou-me ela, segurando um A4 onde eu imprimira um trabalho e apontara algumas correcções a fazer.
“Não, – respondi sem pensar - podes ficar com ela.” E automaticamente, o braço dela desceu e atirou a folha – totalmente branca de um lado – para o lixo.
Está bem. Vivemos num mundo de modas. Num mundo de politicamente correctos. Quanto mais elevada a formação e o status, maior a exigência de dizer ou não dizer certas coisas, de usar ou não usar outras. Isto levou, é claro, ao cúmulo da hipocrisia.
Aqui é só olhar em volta todos os dias. Gente com formação universitária, que gosta de dizer que temos que defender o planeta e que gosta de dizer mal da poluição, do desperdício e da ganância humana. Gente que gosta de dizer que é justa, correcta, cumpridora. É vê-los todos os dias. Caixas de papelão, garrafas de plástico, resmas e resmas de papel. Tudo vai direitinho parar ao lixo. T-U-D-O. É vê-los nos dias de aniversário rasgar avidamente os papéis de embrulho e indiferentemente pregar com tudo no caixote tão convenientemente mesmo por baixo da secretária. Convenhamos, está muito mais perto que o Ponto Verde...
- Sim, é preciso poupar recursos. Sim, é preciso proteger o planeta. Eu sou a favor! Mas porra, que o façam os outros. Eu cá não tenho tempo. Nem paciência. Aliás, na verdade, estou-me a cagar para isso tudo. Só preciso de dizer que sim de vez em quando, porque parece bem.
No meu bairro, já nem é preciso caminhar até ao Ponto Verde. Deixa-se o lixo seleccionado à porta do prédio e vêm buscar. Está tudo organizado. Excepto na cabeça da maioria dos vizinhos, que à falta de um mínimo de consciência, optam por fazer pouco de quem à noite leva os saquinhos com a reciclagem.
Nos dias 25 de Dezembro, as nossas cidades são a imagem personificada da degradação e da mesquinhez. As caixas das bonecas e das pistas de carros, as toneladas de papel das prendas dos tios e dos primos e dos pais e dos filhos e das madrinhas. São os contentores do lixo atafulhados delas. E os Pontos Verdes ali pertinho, muitos deles à espera de ocupantes.
São as nossas cabeças pequeninas, que não vêem além do seu umbigo, e vivem autistas no seu mundinho, onde entre as palavras e o actos construíram o fosso da conveniência. Vistas de longe, estas cabecinhas são os pontos negros desta Terra. Tantos e tantos, mais e mais. E parece não haver Clearasil que nos valha.
“Não, – respondi sem pensar - podes ficar com ela.” E automaticamente, o braço dela desceu e atirou a folha – totalmente branca de um lado – para o lixo.
Está bem. Vivemos num mundo de modas. Num mundo de politicamente correctos. Quanto mais elevada a formação e o status, maior a exigência de dizer ou não dizer certas coisas, de usar ou não usar outras. Isto levou, é claro, ao cúmulo da hipocrisia.
Aqui é só olhar em volta todos os dias. Gente com formação universitária, que gosta de dizer que temos que defender o planeta e que gosta de dizer mal da poluição, do desperdício e da ganância humana. Gente que gosta de dizer que é justa, correcta, cumpridora. É vê-los todos os dias. Caixas de papelão, garrafas de plástico, resmas e resmas de papel. Tudo vai direitinho parar ao lixo. T-U-D-O. É vê-los nos dias de aniversário rasgar avidamente os papéis de embrulho e indiferentemente pregar com tudo no caixote tão convenientemente mesmo por baixo da secretária. Convenhamos, está muito mais perto que o Ponto Verde...
- Sim, é preciso poupar recursos. Sim, é preciso proteger o planeta. Eu sou a favor! Mas porra, que o façam os outros. Eu cá não tenho tempo. Nem paciência. Aliás, na verdade, estou-me a cagar para isso tudo. Só preciso de dizer que sim de vez em quando, porque parece bem.
No meu bairro, já nem é preciso caminhar até ao Ponto Verde. Deixa-se o lixo seleccionado à porta do prédio e vêm buscar. Está tudo organizado. Excepto na cabeça da maioria dos vizinhos, que à falta de um mínimo de consciência, optam por fazer pouco de quem à noite leva os saquinhos com a reciclagem.
Nos dias 25 de Dezembro, as nossas cidades são a imagem personificada da degradação e da mesquinhez. As caixas das bonecas e das pistas de carros, as toneladas de papel das prendas dos tios e dos primos e dos pais e dos filhos e das madrinhas. São os contentores do lixo atafulhados delas. E os Pontos Verdes ali pertinho, muitos deles à espera de ocupantes.
São as nossas cabeças pequeninas, que não vêem além do seu umbigo, e vivem autistas no seu mundinho, onde entre as palavras e o actos construíram o fosso da conveniência. Vistas de longe, estas cabecinhas são os pontos negros desta Terra. Tantos e tantos, mais e mais. E parece não haver Clearasil que nos valha.
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