Ondas de Verdade
Acho que devia dizer qualquer coisa, mas a verdade é que até agora não encontrei nenhuma palavra que pudesse fazer algum sentido no meio de tudo isto. Os meus olhos nunca tinham visto. O espírito não estava minimamente preparado. O jornalista que caminha por entre os corpos no chão, tentando disfarçar o esgar de nojo ao cheiro da decomposição a céu aberto. O médico que caminha por entre os feridos e os desesperados, quando ao fim de três dias foi o primeiro a chegar a um hospital improvisado numa aldeia. As pessoas arrastadas para a morte por uma força incontrolável. Filhos arrancados dos braços das mães. Famílias destroçadas. Gente que perdeu os seus amores, as suas casas, gente marcada para sempre.
Não há nada de novo ou inteligente a dizer. Não se pode encontrar uma lógica no que simplesmente foi. Não há destino nem razão. O nosso planeta é vivo. E pode matar. Hoje, com os meios de que dispomos, pudémos perceber a dimensão dessa verdade.
O que me deixa perplexa é que isto acontece todos os dias. E não é por causa da deslocação de umas placas. Nós também somos vivos. E matamos ainda muito mais prolongada e eficazmente. Mas esse dia-a-dia vivemo-lo com naturalidade, aceitando-o como uma propriedade normal da vida.
Mas desta vez foram as ondas que levaram as vidas e deixaram como lembrança os mortos pelas ruas, os corpos que um dia tiveram uma alma e acabaram numa vala comum, os gritos de desespero, os rostos que num instante já não sabem sorrir, o olhar apático do choque, a incapacidade de um mero ser humano para lidar com uma dor maior do que ele próprio.
Mas foram também as ondas que trouxeram à superfície a perseverança dos que buscam, o altruísmo dos que salvam, a força dos que apoiam, a determinação dos que curam. Até trouxeram lágrimas e dor aos que assistem à distância. Tudo isso que há tanto tempo estava já perdido no fundo dos nossos mares.
Só quando uma força maior do que a nossa ataca, somos capazes de perceber que, de facto, vivemos todos na mesma aldeia. Só falta saber quando vamos perceber que as ondas podem chegar a qualquer quarteirão...
Não há nada de novo ou inteligente a dizer. Não se pode encontrar uma lógica no que simplesmente foi. Não há destino nem razão. O nosso planeta é vivo. E pode matar. Hoje, com os meios de que dispomos, pudémos perceber a dimensão dessa verdade.
O que me deixa perplexa é que isto acontece todos os dias. E não é por causa da deslocação de umas placas. Nós também somos vivos. E matamos ainda muito mais prolongada e eficazmente. Mas esse dia-a-dia vivemo-lo com naturalidade, aceitando-o como uma propriedade normal da vida.
Mas desta vez foram as ondas que levaram as vidas e deixaram como lembrança os mortos pelas ruas, os corpos que um dia tiveram uma alma e acabaram numa vala comum, os gritos de desespero, os rostos que num instante já não sabem sorrir, o olhar apático do choque, a incapacidade de um mero ser humano para lidar com uma dor maior do que ele próprio.
Mas foram também as ondas que trouxeram à superfície a perseverança dos que buscam, o altruísmo dos que salvam, a força dos que apoiam, a determinação dos que curam. Até trouxeram lágrimas e dor aos que assistem à distância. Tudo isso que há tanto tempo estava já perdido no fundo dos nossos mares.
Só quando uma força maior do que a nossa ataca, somos capazes de perceber que, de facto, vivemos todos na mesma aldeia. Só falta saber quando vamos perceber que as ondas podem chegar a qualquer quarteirão...
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