quinta-feira, 24 de março de 2005

Mourinhos i Modéstias

Quando vejo o José Mourinho falar na televisão, lembro-me daquelas pessoas que nos vêm provar o contrário daquilo que aprendemos. Afinal não vale a pena sermos modestos nem humildemente gratos pelo que temos. Sejamos arrogantes e imodestos, porque a sorte e o talento continuarão sempre connosco. Na verdade, a jogada só lhe traz vantagens. Os adversários intimidam-se, por muito que não queiram. E o mundo dá-lhe toda a atenção. E muito dinheiro também.
Mas porque não? Porque não ser imodesto? Porque não afirmar sem falsas modéstias as capacidades que temos a certeza de ter? Não estou a falar do “Sou tão linda. Tenho umas unhas tão bem cuidadas. O meu cabelo é tão brilhante e sedoso”. Estou a falar de talento, de capacidade. Porque é que viver em sociedade nos obriga a disfarçar os talentos, a constrangirmo-nos com os elogios, a fingir que não achamos o nosso trabalho bom assim tão bom? Porque é que não podemos sentar-nos ao almoço e dizer a todos “Hoje tive uma ideia brilhante!” ou “Hoje fiz um excelente trabalho!” ou “Hoje o meu chefe fez-me um grande elogio”? Até pode toda a gente sorrir e dar os parabéns, mas aposto que na maioria das cabeças fica a ecoar uma palavra. “Convencido!”
Os elogios também estão em fase de poupança, quase em perigo de extinção. E depois, quando nos brindam com um, vem o embaraço da satisfação, e lá temos que fazer aquele esforço sobre-humano para não sorrir abertamente. E pronto, em vez de um sorriso, sai aquele tique nervoso a cheirar a presunção.
Na verdade, socialmente, as pessoas que afirmam sem panos quentes as suas virtudes tornam-se intragáveis! Provavelmente as únicas pessoas com quem podemos ser assim são os nossos pais, que adoram o reconhecimento de que geraram seres fantásticos. E eventualmente o parceiro amoroso, que supostamente já acha que faz parelha com um ser maravilhoso. Para todos os outros, pessoas “Mourinhos” são insuportáveis.
Eu também não gosto delas. Mas admita-se. Todos nós nos achamos melhores que os outros em alguma coisa. E que deve ser bom viver sem ter que fingir que não achamos, lá isso deve.