Virado para a lua
Há um muro no mundo que o divide em duas categorias de pessoas. As que têm sorte e as que não têm. Por outras palavras, o mundo Gastão e o mundo Pato Donald.
Fico sempre fascinada com a facilidade com que algumas pessoas passam pela vida. As coisas – boas, note-se – acontecem-lhes de forma fluída, como se houvesse alguém a encomendar-lhes os dias, conforme a sua necessidade. Tudo é fácil. Não há lutas, não há sofrimento que não dê logo em felicidade, não há coisa que não precisem que o futuro breve não providencie.
Depois, do outro lado, a olhar embasbacados, estão os outros. Os que esperam anos, a vida inteira, às vezes, para conseguir algo. Os que não podem ter uma pontinha de felicidade sem uma pedra na engrenagem. Aqueles para quem as várias peças da vida teimam em não encaixar. Aqueles que não podem distrair-se por um instante sequer e deixar a vida seguir sozinha o seu curso. Os que se habituaram que normalmente as coisas correm mal. E que nos momentos em que lhes é finalmente dado algo bom, desconfiam e sentam-se à espera que qualquer coisa lhes caia em cima.
Aqueles felizes, os que moram lá do outro lado do muro, vivem naquela certeza irritante de que tudo vai resolver-se, porque foi o que vida sempre lhes provou. Já os que moram aqui deste lado... habituaram-se a que não há almoços de borla. A que as coisas nunca vão ser como desejámos. E vive-se com aquela terrível sensação de que os momentos bons em breve nos serão tirados. Ou então muito bem pagos.
Eu sempre menosprezei a sorte. Até porque poucas vezes me cruzei com ela. Mas sempre acreditei que não dependia dela. Que podia lutar pelas coisas e conquistá-las. E até tinha a certeza de que as coisas conquistadas têm melhor sabor do que as dadas. O que nunca devia ter acontecido era ter-me cruzado com os habitantes do outro lado do muro. A arrogância inconsciente com que falam da vida e das suas garantidas facilidades é um abalo grande para os que nasceram do lado de cá. A ideia de coisas boas a surgir como cogumelos, dos problemas que se resolvem sozinhos, não fazia parte do nosso imaginário. E há coisas que nem toda a luta do mundo traz. Só mesmo a Sorte.
Infelizmente, na noite em que eu nasci não havia Lua. Ou então tive a triste ideia de não nascer de traseiro virado para ela. Mas ainda tenho esperança de vir a encontrar neste facto alguma compensação. Ou pelo menos algum sentido.
Fico sempre fascinada com a facilidade com que algumas pessoas passam pela vida. As coisas – boas, note-se – acontecem-lhes de forma fluída, como se houvesse alguém a encomendar-lhes os dias, conforme a sua necessidade. Tudo é fácil. Não há lutas, não há sofrimento que não dê logo em felicidade, não há coisa que não precisem que o futuro breve não providencie.
Depois, do outro lado, a olhar embasbacados, estão os outros. Os que esperam anos, a vida inteira, às vezes, para conseguir algo. Os que não podem ter uma pontinha de felicidade sem uma pedra na engrenagem. Aqueles para quem as várias peças da vida teimam em não encaixar. Aqueles que não podem distrair-se por um instante sequer e deixar a vida seguir sozinha o seu curso. Os que se habituaram que normalmente as coisas correm mal. E que nos momentos em que lhes é finalmente dado algo bom, desconfiam e sentam-se à espera que qualquer coisa lhes caia em cima.
Aqueles felizes, os que moram lá do outro lado do muro, vivem naquela certeza irritante de que tudo vai resolver-se, porque foi o que vida sempre lhes provou. Já os que moram aqui deste lado... habituaram-se a que não há almoços de borla. A que as coisas nunca vão ser como desejámos. E vive-se com aquela terrível sensação de que os momentos bons em breve nos serão tirados. Ou então muito bem pagos.
Eu sempre menosprezei a sorte. Até porque poucas vezes me cruzei com ela. Mas sempre acreditei que não dependia dela. Que podia lutar pelas coisas e conquistá-las. E até tinha a certeza de que as coisas conquistadas têm melhor sabor do que as dadas. O que nunca devia ter acontecido era ter-me cruzado com os habitantes do outro lado do muro. A arrogância inconsciente com que falam da vida e das suas garantidas facilidades é um abalo grande para os que nasceram do lado de cá. A ideia de coisas boas a surgir como cogumelos, dos problemas que se resolvem sozinhos, não fazia parte do nosso imaginário. E há coisas que nem toda a luta do mundo traz. Só mesmo a Sorte.
Infelizmente, na noite em que eu nasci não havia Lua. Ou então tive a triste ideia de não nascer de traseiro virado para ela. Mas ainda tenho esperança de vir a encontrar neste facto alguma compensação. Ou pelo menos algum sentido.
1 Comments:
Não gosto nada de ver essa atitude. Pareces um pouco desanimada. Mas a gente percebe, afinal muitas vezes passámos à frente dessa porta.
Contudo, não posso deixar de fazer um reparo: não gosto de visões maniqueístas do mundo. São necessariamente parciais. Assim como não acredito no destino como coisa inexorável.
A vida é feita de mudanças rápidas, em que a única constante é a inconstância. Não há felizes ou infelizes. Cada um destes tem a semente do outro em si mesmo. O mundo não é preto e branco, mas em tons de cinzentos.E, às vezes, até dourados.
By Anónimo, at 7:05 da tarde
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