Dança das cadeiras
Foram-se sentando na cadeira vazia à minha frente, um após o outro. Todos mais velhos do que eu, na escala dos 32 aos 36 anos, todos me lançavam olhares humildes, esperançados. Eu não tinha nada para lhes oferecer, a não ser um mísero estágio de três meses, cuja única garantia era que não ficariam na empresa depois desse prazo. Eu, mais nova, e com toda a certeza não melhor ou mais competente do que eles, avaliava-lhes os conhecimentos e a personalidade, num espaço de 15 ou 20 minutos. Via-lhes o trabalho de 15 anos resumido numa folha de papel. Eu estava do outro lado da mesa, pela primeira vez, e foi assustador ver aquelas pessoas, naquele momento da vida, em que eu também podia estar. A realidade sentou-se à minha frente. Lá fora, gente jovem, mas cuja idade ultrapassou já os limites para entrada numa empresa, não tem nada. São forçados a recomeçar, e a tornar a recomeçar. Atiram-se a cursos profissionalizantes, na esperança de um lugar, e aos trinta e tal sentem-se satisfeitos se conseguirem um pequeno estágio financiado pelo Instituto de Emprego. Eu, da minha cadeira confortável, escondo o medo com que olho para eles. Porque um deles podia muito bem ser eu. E escondo um pouco de vergonha, porque mesmo quando temos um lugar seguro, ele é sempre frio, ou feio, ou pequeno... Pelo menos tenho para onde ir todas as manhãs. Esta gente não tem, nem amanhã, nem, quem sabe, daqui a um mês ou um ano. Faz-me lembrar o jogo das cadeiras. E parece que não houve lugar para eles. O pior é que as cadeiras são cada vez menos, e cada vez há mais gente de pé.
Hum... talvez este lugar aqui... seja mais quentinho do que parece.
Hum... talvez este lugar aqui... seja mais quentinho do que parece.
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