Eu quero ser... o Vitor Baía!
Estava ontem à noite em frente à televisão, a assistir satisfeita à grande vitória do FC Porto – sim, que eu não gosto de futebol, mas fico sempre contente quando Portugal dá nas vistas pela positiva (coisa rara) – e ao ver os jogadores correr pelo campo, de taça na mão, subitamente atingiu-me: deve ser tão bom ser o Vitor Baía...! Palavra de honra, senti uma tal onda de inveja! Já viram bem? Um homem bem sucedido, talvez no auge da sua carreira, com toda a certeza rico, giro – saliente-se giro com’ó caraças e eu nunca tinha reparado, em plena forma, cheio de saúde, e ainda por cima um vencedor, guarda-redes e capitão de uma equipa vencedora.
Ao observar aquele sorriso (fantástico, por sinal) enquanto recebia a medalha, ao observar aquele orgulho em si mesmo ao erguer a taça perante milhares de pessoas, pude perceber que aquela sensação deve ser uma das melhores coisas do mundo. Para ele não interessa nada que o trabalho dele seja só agarrar bolas. Uma vitória na pele do Vitor deve ultrapassar quase tudo o que podemos imaginar. Já eu, monstrinho verde em frente ao écran, totalmente consciente de que aquela sensação me está totalmente vedada, vi-me de repente com uns belos e fortes cabelos pretos revoltos, um sorriso pepsodent, um corpo fabuloso, guarda-redes referência de um país e até de uma Europa, admirado por milhares (milhões?), com um prémio ao pescoço, outro maior nas mãos, e outro muito maior no bolso. Será por isto que as pessoas gostam de futebol? Porque além de fazerem parte um grupo, têm assim acesso a sensações impossíveis de outra forma?
É claro que também senti a manchazinha negra da frustração por, depois de todas as vitórias, não ir participar no Euro 2004... Um gajo bom como eu? Mas olha, livro-me de boa: pelo menos poderei continuar a dizer que para mim, 2004 foi um ano cheio de vitórias...
Eu já ADOREI futebol. Há 17 anos atrás, vibrei com cada segundo do jogo com o Bayern de Munique. Hoje acho que se dá demasiada importância ao futebol, e que tudo se desvirtuou. Ainda assim, ontem permiti-me por instantes ser o Vitor Baía. E, porra, gostei.
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