segunda-feira, 16 de agosto de 2004

Algo por que esperar

Algo bom, algo emocionante! Às vezes tenho a sensação que a vida não é tanto aquilo que se vive, mas aquilo que se espera viver. A expectativa é um vício, uma cenoura pendurada numa vara à frente do burro, uma justificação para respirar. A espera de algo bom faz o tempo passar mais devagar e mais depressa, faz voltar o sorriso, faz resistir a paciência, faz subir o ânimo. A espera de algo bom põe-nos um objectivo no horizonte, põe-nos à frente um sonho palpável, ao alcance da mão. E se nos esticarmos mais um bocadinho...!
Mas assim que o dia chega, em que o sonho se vive acordado, começa logo a ser envenenado pela ideia do fim. A certeza de que vai acabar. Enquanto não chega, não. Parece que há-de ser para sempre. E assim se vive, a gastar os cartuchos da expectativa, uns atrás dos outros. A perder tempo a desejar que o tempo passe para chegar tal dia. A passarmos meio indiferentes pelos dias em que não há cartuchos em stock. Quando na verdade todas as manhãs deviam ser vividas assim, com a expectativa do dia pela frente. Porque eles próprios, os dias, existirem, já é em si algo bom, por que vale a pena ansiar, todas as manhãs.