segunda-feira, 16 de junho de 2014

Atingiu-me. Eram 05h30 da manhã e subitamente atingiu-me. Ouvimos isto tantas tantas vezes durante toda a vida e não percebemos. Fazer os outros felizes. Essa deve ser a nossa prioridade.
Mas não. Andamos sempre embrenhados nos nossos problemas, na nossa falta de tempo, nas coisas que deixamos de poder fazer que nos esquecemos dessa coisa tão simples. Não perguntes o que é que os que amas podem fazer por ti, pergunta o que é que tu podes fazer pelos que amas.
A vida às vezes parece-me um tubo de aspirador, em que tudo é sugado e entra em espiral, sem conseguirmos controlar nada. Como se a tranquilidade e a paz há muito tivessem desaparecido e não pudéssemos fazer absolutamente nada para a recuperar.
Mas há. Afinal é isso. Fazer os outros felizes. Aqueles que amamos. Aqueles que ainda temos a felicidade de nos amarem. Porquê viver imaginando tudo o que os outros poderiam fazer para nos trazerem felicidade? Afinal, nós não queremos é que eles estejam felizes? Não é no fundo isso que nos faz felizes?
Com as pessoas que decidiram partilhar - muito ou apenas um pouco - da sua vida connosco, temos uma grande responsabilidade. Vida só há uma, e se eles decidem partilhar connosco uma parte... então temos a responsabilidade de a tornar o mais feliz possível. Nesses momentos temos que os fazer sentir bem consigo próprios, temos afinal de contas que os amar.
Foi esta madrugada que isto me atingiu. Graças ao mosquito que me considerou boa fonte de alimentação, me picou e zumbiu aos ouvidos. Foi por causa dele que, mesmo de olhos fechados, abri o coração. Realmente. Não é só uma daquelas frases, "abri o coração". Foi mesmo a sério.
Cada um de nós devia ter o seu mosquito. Mas para muitos de nós, fica uma grande dúvida... terá chegado tarde demais?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os velhos e os novos

Não há realmente qualquer interesse em tentar ensinar aos mais novos as lições que nós, mais velhos, aprendemos com os nossos erros. Seja em que idade for. Estamos sempre tão fechados nas nossas certezas, ou nas nossas incertezas – nós, os mais novos - que as descobertas dos outros de nada nos servem. Não porque não sejam incrivelmente úteis e clarividentes, mas porque temos a mania que os mais velhos estão errados. Que eles não viveram realmente as mesmas coisas que nós, que a nossa situação é sempre mais complexa que as deles foram. Ou porque os alertas deles são alarmistas e exagerados, e na verdade nada se passará como eles dizem.
Ohh, como isso não podia estar mais errado! Há decisões - e principalmente indecisões - que, com o passar dos anos, se revelam dolorosamente erros. Erros crassos, óbvios. E dão aos mais velhos o legítimo direito de nos acenarem com o indicador na cara e dizerem: “Eu bem te disse.”
Temos a mania que eles têm a mania. Que estão armados em grandes sábios da vida. A questão é que não estão armados. Eles SÃO grandes sábios da vida. Apenas porque já viveram mais. Sejam os nossos pais ou avós perante nós, sejamos nós perante os nossos filhos. Cada vivência, cada erro, cada conclusão, dá-nos a possibilidade de ensinar, ajudar a prevenir, ajudar a acontecer, junto de quem é mais novo.
Aquela fantástica frase que oiço tantas vezes, “Eu não me arrependo de nada.”, não podia ser mais mentira. Quem é que não se arrepende? Quem é que não faria coisas diferentes, se soubesse mais naquele preciso momento? Quem não teria tomado decisões mais cedo, em vez de deixar arrastar, porque achava que não era o momento certo, porque estava sentado à espera das condições certas?
Quem me dera saber quando era mais novo, aquilo que sei hoje. Essa é uma verdade incontornável. Mas também essa é uma verdade que poderia evitar-se, se de facto soubéssemos o que sabemos mais tarde. Porque infelizmente só com a idade percebemos que realmente há lições que podemos tirar sem para isso termos que bater com a cabeça no muro. É quando nos arrependemos de não ter ouvido as lições dos outros, que percebemos que realmente as podíamos – devíamos - ter ouvido. É também essa uma lição que se aprende tarde demais. E que infelizmente não conseguimos ensinar a quem ainda está a tempo de a aprender.
Costumo queixar-me que a vida não tem rascunho. Agora percebo que o rascunho das nossas vidas são as vidas dos outros. Dos mais velhos. É pena os rascunhos serem difíceis de ler, para quem olha para eles pela primeira vez. E suponho que esta é uma fatalidade da condição humana actual. Cercar-se de ego e reduzir-se à estúpida mania de pensar que os outros é que têm a mania. A juventude é realmente desperdiçada nos jovens. E insistimos em ser jovens até já ser tarde demais.
É assim que os mais jovens irão sempre fazer orelhas moucas. E os mais velhos irão experimentar sempre a frustração de tentar.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Os maus ganham porque os bons desistem. Há um bloqueio em lutar contra quem vive num nível baixo e usa truques baixos de forma natural. Há todo um não saber como derrubar o outro, sem o derrubar. Há uma ignorância absoluta no que respeita às armas que alguma vez poderão ser mais fortes que aquelas armas que eles usam. Há um querer manter respeito pelo que não nos respeita. Há uma burrice qualquer, seja uma destas ou uma outra, que impede os bons de agir. Como é que se luta abaixo da linha, sem descer abaixo da linha? Nos filmes tudo parece acabar por resolver-se. Na vida real, baixam-se os ombros, quebra-se o espírito. O público não deve estar a gostar do espectáculo...

quinta-feira, 31 de março de 2011

Desisto. Não consigo perceber a vida. Pura e simplesmente não consigo. Sempre pensei que ao chegar à meia-idade, as coisas já fossem claras, já estivessem no lugar, ou que pelo menos eu já soubesse o lugar delas. Agora já percebo porque é que é nesta altura que se tem a tal crise. Porque passamos 40 anos a achar que chegamos a esta fase e somos finalmente crescidos, estáveis, sabemos o que queremos e temos quase tudo o que queremos. Mas afinal não é nada disso. Não percebo porque é que o que queremos já não é o que queríamos. Porque é que o que parecia perfeito de repente deixa tanto a desejar. Porque é que as pessoas mudam. Porque é que nós mudamos. Ou será que é porque no fundo nunca realmente mudamos? Porque é que continuamos a não ter a certeza do que queremos. Tenho agora precisamente as mesmas dúvidas que tinha com 6 anos. Porque é que há pessoas más? Porque é que o Pai Natal não existe mesmo? Porque é que os crescidos tornam a vida tão difícil uns aos outros?
Pensei que nesta altura, a chave da vida já estaria desvendada. Que o meu lugar já seria óbvio.
Também pensava que já teria aprendido a reacção correcta na maioria das situações. Que já saberia quando calar-me, quando falar, quando ser compreensiva ou quando permitir-me indignar-me. Mais importante que tudo, que já teria conseguido dominar a arte de dedicar-me ao que é realmente importante, e esquecer instantaneamente tudo e todos os que não interessam. Que nunca mais voltaria a permitir que o que nos fazem as pessoas más, envenene os aspectos bons da nossa vida.
Pensava também que já teria aprendido a reprimir as minhas expectativas nos outros, que por esta altura já não esperaria nada e que por isso estaria na segura posição de não voltar a ser desapontada. O mesmo digo para as minhas expectativas sobre mim própria.
Pensava, acima de tudo, que nesta idade já teria podido parar de pensar. E começado simplesmente a viver.
É por isso mesmo, porque no fundo nunca mudamos, porque nunca deixamos de ter expectativas, porque continuamos a sentir-nos com 6 anos, que agora coloco sobre a segunda metade, a expectativa que tinha sobre a primeira.
E afinal, o que é que se aprende em 40 anos? Uma e única brilhante lição. Que a arte de ser humano é com certeza a mais difícil de todas. Bem, ou pelo menos, parece…

quarta-feira, 30 de março de 2011

Dizeres que se comprovam

Confirma-se. Em situações difíceis, as alianças mais improváveis acontecem. Colocam-se as diferenças para trás e trabalha-se em sintonia, para um objectivo e um bem comuns. É no meio disto que por vezes abrimos o espírito e deixamos entrar o que à partida jamais teria visto de entrada. E é no meio de tudo isso que me questiono. Porque é que será sempre preciso esperar pela situação difícil? Há coisas que só se fazem quando não se tem outro remédio. Mas esta não deveria ser uma delas.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A velha e a menina

Há anos atrás, numa série vi uma mulher dar a notícia da sua gravidez ao namorado:
- Time’s up, Steve. It’s someone else’s turn to be a kid.
(Acabou o tempo, Steve. É a vez de outra pessoa ser uma criança.)

Não. Na na na, nem pensar. Ela fica sempre aqui. Pode assumir uma personalidade ou outra, mas nunca nunca vai embora. Podemos passar de bebés a meninos a adolescentes a jovens a adultos a quarentões cinquentões de mais idade idosos, anciões o raio que o parta. Mas a criança, essa criança que começámos sempre por ser, nunca deixa de existir. Podemos crescer e ter as nossas próprias crianças, tornarmo-nos pais e avós de crianças. Mas nunca somos mais do que crianças que tiveram crianças. Ralhamos aos nossos filhos, atabalhoadamente encavalitados no alto dos sapatos altos que roubámos do armário das nossas mães. E esta batalha entre o adulto que parecemos e a criança que somos é… sei lá, nem tenho palavra. Como é que se equilibra isto?
Um dos sonhos que acompanha a maioria de nós, ao crescer, é ter filhos. Depois temos filhos e continuamos a ter sonhos. Outros sonhos, uns que também já tínhamos antes, outros novos. Era suposto? É que parece tanto não combinar.
Porque concretizar outros sonhos significa abdicar de tempo com o sonho que já concretizámos. Aquele que é o mais fascinante, mais exigente, mais desafiante de todos. Ter um filho. Às vezes acho que a partir do momento em que se tem um filho, o nosso software devia bloquear a aplicação Sonhos. Porque agora já não somos uma criança, somos adultos. Os adultos não têm sonhos, têm responsabilidades. Isso deve estar escrito em qualquer lado. E a nossa prioridade é aquele sonho, não outro qualquer. É a criança mais nova, não a que tem 30 ou 40 anos.
Mas não, o software traz bug. Tem-se um filho e pimba, ao fim de um tempo aí vai a nossa criança (a que temos cá dentro, não a que saiu cá de dentro) lançada em novos sonhos. Sonhos que exigem mais tempo do que as 24 horas do dia. Sonhos que nos obrigam a abdicar de tempo com o sonho nr 1. E esse tempo é todo tão precioso.
Depois há as opções em como lidar com a criança de dentro.
Há os que a deixam sair e vivem ao sabor dos seus desejos. Esses trocam as prioridades, os filhos são apenas uma parcela (zinha) da sua existência, e abdicam de tempo com elas (já tão pouco!) para perseguirem os seus sonhos. Entre muitas coisas, isso resulta na queda do papel de adulto totalmente sobre o outro com que fez o filho, que não tem mais remédio que fazer-se adulto a 100%, para compensar a criança que o primeiro é.
Há os que optam por fingir que são mesmo adultos. Amordaçam a criança de dentro, dizem-lhe que o tempo dela acabou, e dividem o seu tempo entre as responsabilidades e o sonho nº 1. Infelizmente, a criança amordaçada acaba por ter birras terríveis, espernear, dar pontapés, e transformar a nossa vida num inferno. Porque ela pode estar calada. Mas está lá. E continua a querer tudo o que quer.
E depois há os que vivem na ilusão de que vão conseguir. Hão-de conseguir chegar a tudo, e agradar às duas crianças. Há-de chegar o dia. Um dia.
Os primeiros para mim são os maus da história. Os segundos e terceiros os que oscilam entre momentos de grande felicidade e realização com a criança de fora, e de grande frustração com a criança de dentro.
Para tentar encontrar a solução, imagino-me velhinha, nas últimas horas. E penso no que nesse momento vai valer. O que realmente vai deixar-me feliz por ter feito? E do que realmente irei arrepender-me de não ter feito? Porque acho que nesse momento – e só nesse momento – devemos ter a clarividência do que realmente importa. E nesse momento deve parecer tão irritantemente óbvio.
Porém, a resposta parece-me sempre óbvia. A criança de fora. Sempre.
Mas há algo ainda mais óbvio. A criança de dentro definitivamente não concorda com a velhinha.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A vergonha do dinheiro

Este país tem coisas muito curiosas. Muitas coisas.
Estamos num país em que, logicamente, todas as pessoas vivem com a ambição de melhorar de vida, ter mais dinheiro, mais coisas. Há nisso toda a legitimidade.
Contudo, ter dinheiro é o demónio! Não há coisa mais vergonhosa neste mundo!
É ver os portuguesinhos permanentemente a conversar entre si sobre o que fazem e deixam de fazer, sobre o que compram e deixam de comprar, sobre para onde viajam ou deixam de viajar. E não há boca que não se abra para reafirmar e reafirmar a sua pobreza. Ah não, eu não tenho televisão por cabo. Ah não, eu nunca entro nessas lojas. Ah não, eu nunca viajo. Ah não, eu só compro marca branca. Isto sempre em resposta imediata e automática à menor manifestação de outrém, que ousou ter uma acção financeiramente mais... chamativa.
Desculpem-me, mas não há paciência para esta hipocrisia. Todos queremos ganhar mais dinheiro. Mas assim que essa meta se alcança, passa a ser vergonha. Os que ganham menos fazem gala em mencionar ao cêntimo quanto ganham. Os que ganham mais calam-se em copas, como se isso fosse uma mancha negra na sua reputação, um crime passado que ficou por punir. Não convém que ninguém saiba!
Ganhem menos ou mais, há uma permanente batalha para exibir sinais verbais de pobreza. Sim, verbais. Porque depois a grande maioria tem carros, casas, tv por cabo das mais caras, televisão e dvd, bicicletas, cremes de marca, roupas de marca. Mas são pobres, remediados. Temos que ser, mal de nós se não fossemos. Se calhar, para o ano somos mesmo todos. Mas até lá, ainda estou para perceber esse prazer inerente a ser pobrezinho. E essa vergonha abjecta em ter algum dinheiro, em alguém poder permitir-se um ou outro luxo.
Se há frase que odeio visceralmente é aquele imediatismo primário do "É porque pode!"
É mau poder? É repreensível alguém ter alcançado um momento na vida em que de facto pode permitir-se algo? Será que na mente de cada português há a grande certeza de que somos todos corruptos excepto ele? Ele, o esforçado trabalhador humilde injustiçado e desconsiderado ele? Não haverá portanto sequer a mais ínfima possibilidade de outros, como ele, terem trabalhado e de facto alcançado algo?
Será isto ainda o peso de uma ditadura de há décadas atrás, esse tão famoso e ainda tão na moda bode expiatório? Ou teremos todos desenvolvido uma mentalidade mesquinha e invejosa, que nos impede de ter um pensamento aparentemente bastante linear e óbvio, mas que parece escapar à maioria. "Que bom que ele conseguiu. Se ele conseguiu, talvez eu consiga."
Mas não. Talvez porque estamos habituados a viver num país de corrupção e jeitos aos amigos, e dinheiro para o bolso, e acordos velados. Se eu consigo, mereci-o. Se outros conseguiram, foi marosca.
Quem tem mais algum dinheiro, é bom que lhe pese na consciência. Não interessa saber se teve ou não mérito. Não teve e pronto. Teve sorte. Teve "amigos". Teve jeitos. Gostava de saber se, aos "pobrezinhos", não lhes pesa terem um emprego, carros e casas, e consolas de jogos e férias no Brasil, quando se comparam com os que de facto não tem nada. Então afinal? Não têm vergonha??

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A razão

Hoje li algo que espelha claramente o problema de tantos. Dizia um homem:

"For 23 years, I went to work and I had a reason, money. But I never had a purpose."
Durante 23 anos fui trabalhar porque tinha uma razão, o dinheiro. Mas não tinha um propósito.

Isto atinge em cheio o nervo central da frustração do ser humano. Porque somos obrigados a trabalhar, somos obrigados a ganhar dinheiro. E isso passa por cima daquele desejo nuclear de termos um objectivo, de sentirmos que temos um propósito.
Hoje, disse isto a alguém. E a resposta foi "Tens tu esse problema, e milhões de outras pessoas."
Que triste resposta. Como se isso fosse justificador e simplesmente tivesse que me conformar. Como se ambicionar um propósito fosse afirmar-me melhor que todos esses milhões. Se há milhões que talvez nunca tenham a possibilidade de encontrar o seu propósito, não é por isso que deixarão de o desejar e alguns procurar. E quem tenha, ainda que remotamente, a oportunidade de o encontrar, está ainda mais na obrigação de o fazer. Por todos esses milhões que não podem. E porque encontrá-lo pode ser o caminho para que outros o encontrem.

Há alguns anos que me faço acreditar que a razão é suficiente. Mas não o é para todos. Para alguns, o desejo de servir um propósito é brutal. Toma conta de tudo, de todas as nossas acções, sentimentos, palavras. Para esses não há forma de viver feliz sem propósito. Não há forma de viver cada dia em paz, sem propósito. Não há forma de fazer os outros felizes, sem propósito.
Às vezes é desesperante olhar em volta e não ver o espaço onde a peça que somos encaixa. Será tarde...?

terça-feira, 25 de maio de 2010

Eureka

Finalmente percebi o que está errado no ser humano. A total incapacidade de, antes do que quer ser seja, se colocar no lugar do outro.

sábado, 17 de abril de 2010

Lições, lições e lições

Esta foi uma semana de lições. Quase todas negativas.

Quando regressei ao trabalho depois de uma maravilhosa licença de parto, prometi a mim mesma uma mudança radical de atitude a nível profissional. Não necessariamente para melhor. Mas eu tinha percebido que, se não levarmos as coisas muito a sério e não nos preocuparmos se os outros estão a fazer as coisas bem feitas ou não (e muitas vezes é não), tornamo-nos pessoas mais leves e simpáticas. E conseguimos dar-nos razoavelmente bem com toda a gente. Porque a verdade é que, quem é exigente é mau, e quem não quer saber é bom.

Por isso decidi algumas coisas que nunca imaginei:
- Não me envolver em nada,
- Não comentar nada feito por outra pessoa, nem dar qualquer sugestão,
- Não me oferecer para nada e realizar apenas os trabalhos que me são solicitados directamente,
- Fazer o meu trabalho em silêncio, sem envolver ninguém.
Conjuntura talhada para o sucesso? Não.

Nos primeiros meses, até correu bem. Embora achasse totalmente desmotivante não haver verdadeiro trabalho de equipa, troca de ideias e sugestões ou qualquer empatia genuína, achei que se conseguia uma certa paz e independência. E durante uns tempos convenci-me (muito mal) que aquilo tinha futuro. Afinal, aquilo é só o trabalho, e a parte verdadeira e emocionalmente importante não é ali que está.

Vejo hoje como este fantástico grupo de decisões estava destinado ao fracasso.
Por tantas razões... Porque vermos os outros a fazer as coisas mal nos afecta, porque certas decisões prejudicam o global, porque as pessoas nos pedem coisas que envolvem outros e não podemos passar o tempo a dizer que não. Porque ainda temos um vago sentido de obrigação, de dever, e um igualmente vago brio profissional.

Esta semana foi verdadeiramente deprimente a nível profissional. Por três vezes fiz exactamente aquilo que achava correcto, da forma mais humilde, seguindo as regras para não ferir as susceptibilidade de ninguém (e como elas são sensívéis). E das três vezes, tive problemas. Injustos, que fique claro.

Desisto. Não sei mais o que fazer. Sei que a única solução era tornar-me numa daquelas pessoas que nunca imaginei ser. Aquelas mesmo lá no fim da linha do imaginário. Aquelas que genuinamente já não querem saber, aquelas que genuinamente já não têm vontade de fazer mesmo nada, aquelas a quem o espírito já foi genuinamente quebrado. Que são também aquelas que esperam, revoltadas, pela reforma.
Aquelas para quem eu, no início disto tudo, olhava e me perguntava: Como é possível alguém ser assim...??
13 anos depois, já fui brindada com a resposta.

Ou isso, ou mudar. Onde, como, com que coragem? Não sei.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Às vezes penso que a natureza da maior parte de nós é procurar. Estar sempre à procura de algo, que muitas vezes nem se sabe bem o que é. E que nunca vamos deixar de procurar esse não-sei-o-quê, a vida inteira. Mas não é verdade. Quando encontramos o não-sei-quê certo, subitamente deixamos de procurar. É uma estranha sensação de chegar a casa. A sensação de parar. A sensação de paz. De termos uma faceta de nós completa. Tranquila. Que deixou de andar inquieta, aos pulos e aos saltos, de andar de um lado para outro sem parar.
Quando encontramos a coisa certa, paramos de procurar. Essa é a forma de perceber quais as coisas erradas na nossa vida.

O amor vê

Depois de um jantar de aniversário, pergunto a uma amiga:
- Afinal, quem era o teu namorado? Acabei por não conhecê-lo.
- Era o louro, de olhos azuis.

...

"Louro, de olhos azuis? Não havia lá ninguém louro de olhos azuis.."
- Ah, um rapaz mais baixo, gorduchinho, de óculos?
- Sim, esse.

Pois é, o amor vê sempre o melhor. E vê sempre melhor.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Concentramo-nos quase sempre naquilo que podíamos ter, e quase nunca naquilo que podíamos não ter. É isso que por vezes nos faz avançar. Mas quase sempre nos faz infelizes.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Duas conclusões

O dia não tem horas suficientes, e eu não tenho braços suficientes.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Fazer a diferença

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Metro sobre rodas

Agora que normalmente me desloco com rodinhas em anexo (entenda-se: carrinho de bebé), todas as movimentações "não-carro" começaram a tornar-se um desafio que até aqui eu ignorava.
Há dias tive a feliz ideia te ir até ao El Corte Ingles, de Metro, pois claro, que continuo a achar uma loucura enfiar-me num carro para ir para o centro de Lisboa, principalmente havendo transportes públicos.
Questionei-me logo à partida sobre a acessibilidade do Metro, mas pensei cá para mim: "Estações recentes, modernas, têm que ter elevador. E com tanto movimento, com certeza há-de haver pelo menos um em funcionamento em cada estação."
Obviamente, esqueci-me que estamos em Portugal e portanto foi com isto que mais me deparei em Estações bem centrais e utilizadas como a Baixa Chiado cujo único elevador para a plataforma lá estava parado, de portas abertas, ou a Alameda, em que os dois elevadores estavam fora de serviço (fotos abaixo):



Não havendo elevadores na Alameda, foi com esta subida (na ida) e descida (no regresso) que me deparei.



Felizmente não estava sozinha e toca de acartar com o carrinho + bebé pelas escadas acima e escadas abaixo, em várias estações. Pelo caminho lá nos cruzámos com alguns outros desgraçados que também acharam que era boa ideia andar no metro, sobre rodas.
Questiono-me até agora o que fará uma pessoa sozinha com um bebé. Ou pior, e alguém de cadeira de rodas? Porque chegados à estação, não há forma de prosseguir caminho nem de voltar para trás. Haverá algures pelas plataformas uma sala de espera onde os deslocados sobre rodas podem acampar durante dias, à espera do arranjo dos elevadores? Ou quem sabe o Metro tenha contratado uns senhores muito muito grandes e fortes, para carregar com as pessoas escadas acima? A mim dava-me jeito um desses senhores para ir às compras...! E claramente para andar no Metro de Lisboa.
Com esta experiência, agora hesito voltar à baixa de Lisboa de Metro, porque se for sozinha, corro o risto de o meu marido chegar a casa e ficar uns dias à espera de mim e da filha.
Definitivamente, o Metro de Lisboa não anda sobre rodas.