quinta-feira, 26 de abril de 2007

Provérbios

Esta é outra coisa que o tempo faz questão de nos provar. Que os provérbios têm quase sempre razão. Essa coisa chamada “sabedoria popular” vem a ganhar um significado muito claro, quando as palavras, os ditos que ouvimos desde pequenos começam subitamente a fazer sentido. Mesmo aqueles que nos irritam, porque achamos que connosco nunca vai ser assim.
“Longe da vista, longe do coração.” Eu sempre achei que comigo não!, eu nunca vou deixar de sentir a falta dos que amo, mesmo que estejam longe de mim, seja amigo, amor, parente, o que for.
Hoje entra inesperadamente pela porta dentro alguém para me provar o contrário. Eu não via o Miguel já nem sei há quantos anos. Mantivemos contacto, umas vezes mais permanente, outras mais esporádico, outras vezes absolutamente nenhum. Não me lembro de em algum momento ter-me sentado a olhar para o céu, a pensar “que falta me faz o Miguel”, “que saudades que não me aguento”. Pois no momento em que ele entra pela porta e damos um abraço, fui inundada pela sensação física de “fogo, que saudades que eu tinha do Miguel. Temos que voltar a falar mais vezes”.
Pois.
Há uma teoria fantástica para explicar o fenómeno, e que não nos apresenta como uns monstros frios, individualistas e de memória curta. É a mente que nos apaga o sentimento, ou pelo menos o esbate, para conseguirmos lidar mais facilmente com a dor da ausência do outro. Ou não. Ou simplesmente outras pessoas tomam o lugar da que se afastou. Ou acabamos realmente por esquecer quem não aparece.
Em todo o caso, alguma coisa deve ter cá ficado, porque despertou assim que vi o Miguel e foi suficiente para ficar mais alegre o resto do dia. Pode desaparecer outra vez já amanhã. Mas até lá… bolas, tinha mesmo saudades do Miguel!

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Gosto

Em pouco tempo: comprei os bilhetes para o concerto do George Michael (e até escolhi os lugares), comprei o bilhete do comboio (e até escolhi o lugar), transferi dinheiro da conta a prazo para a conta à ordem, carreguei o telemóvel, paguei as férias, escolhi hotel em Coimbra e paguei o quarto. Tudo sem por um minuto tirar o rabo da cadeira. É verdade que isto promove desgraçadamente o aumento de pneus. Mas também nos abre tempo para fazer tantas outras coisas. Gosto… não, adoro a modernidade!

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Grande verdade

You can have it all. Just not all at once.

domingo, 15 de abril de 2007

Três anos

Tenho a tendência para achar que o tempo passa sempre depressa demais, excepto quando se tem dor de dentes ou quando se estava dentro da sala de aula. Curiosamente, relativamente a este blog, tenho quase a sensação de o ter tido desde sempre. Nem costumo lembrar-me de aniversários. Desta vez lembrei-me. Ao contrário do que alguns por aí gostam de ameaçar, provavelmente num momento (ou vários) de carência por algumas palavras que massagem o ego, não tenho intenções de me ir embora. Por mim, gostava que manter isto até ir deste para outro mundo. E com sorte, mesmo nesse gostava que me deixassem continuar a escrever.
Por isso, a única coisa que me ocorre dizer sobre o tema é que me sinto muito afortunada por viver numa época em que a internet existe e me permite coisas como esta. Porque se dependesse de mim, até podíamos viver numa sociedade interessada pela escrita. Mas ainda estávamos a escrever nas paredes da gruta.

sábado, 7 de abril de 2007

Quem carregou no fast forward?

Ainda ontem eu era a miudinha tímida, que se sentava caladinha à mesa com os mais velhos, e ouvia. Ainda ontem eu arriscava um ou outro comentário, murmurando mais para dentro que para fora. Ainda ontem eu achava que as minhas séries, as minhas músicas, os meus filmes eram os melhores do mundo, e que o resto era antiquado e ultrapassado.
Ainda ontem os meus pais foram sempre meus pais, os velhos foram sempre velhos, os bebés eram sempre bebés, e eu tinha sempre quinze anos.
E de repente, puseram-me do outro lado. Sentada à mesa com um miúdo de dezasseis anos, dou por mim a pensar como ele me vê. Porque também já vi gente por esses olhos. Eu sou um dos "mais velhos", um dos amigos do pai. Que às vezes têm aquelas conversas chatas, que falam daqueles filmes antigos e daquelas séries que ninguém vê.
De repente tenho passado. Falo de coisas que ele não conhece, admiro coisas de que ele se ri. Não tenho a sensação que tenha sido progressivo. Foi como se um dia tivesse quinze anos e no dia seguinte acordasse com trinta.
Senti uma estranha necessidade de que ele não me visse com aqueles olhos. Que não me visse como um dos "mais velhos". Não porque me custe aceitar a idade. Mas porque eu não me vejo como "mais velha".
Ninguém é dono da juventude. Todos vamos ser mais velhos, e ser vistos como mais velhos. Mas é complicado quando percebemos que a imagem que temos de nós já não é a mesma que alguns vêem. Suponho que não há nada a fazer. Mas fica o protesto: foi depressa demais!

E a pedido de algumas famílias...