quinta-feira, 27 de maio de 2004

Missão será-possível


Tempo: era do culto do corpo
Local: Health Club
Protagonista: mulher esperançada
Objectivo: ser mais com menos (peso).

Pronto, isto para não dizer que sou eu. Hoje, graças a uma amiga, inscrevi-me pela primeira vez na minha vida, num ginásio. Mas antes de tomar a decisão, fiz um pequeno périplo pelas instalações. Piscinas – maravilhosas e tentadoras como sempre, quando lhes bate o sol ou têm água aquecida. Sala de ginástica – agradável, num exercício calmo, com música. Sala de qualquer-coisa-cycling (será)? – uma sala quadrada completamente lotada de bicicletas (ai espera, lembrei-me, indoor cycling), no momento vazia, mas que imaginei cheia com as pessoas a darem joelhadas umas nas outras, tal era a quantidade de bicicletas. Vestiários – vapor no ar e mulheres semi-nuas, como não podia deixar de ser. Sala de musculação – gente montada em todo o género de aparelhos, a suar, e no ar um cheiro de borracha quente e transpiração. E mais as saunas e os banhos turcos, entre os quais eu nem sei a diferença, mais as massagens e a hidro-massagem, o duche escocês, os courts de ténis e squash... enfim, uma panóplia de técnicas inventadas, umas há séculos, outras ao longo das últimas décadas, por alguns senhores sádicos, outros à procura do pote de ouro, e outros com certeza bem intencionados. Mas como diz brilhantemente um certo administrador brasileiro: enquanto uns choram, os outros vendem lenços.
Ahh, mas a mim preocupava-me uma coisa! Ver que havia lá outras mulheres claramente com o mesmo objectivo que eu. Ou seja, eu queria ver algumas banhas a abanar, alguns pneus a abater. Já pensaram no constrangimento de ser a única gorducha entre um mundaréu de corpos femininos esbeltos e tonificados?? Nem pensar. E quantas? Quantas mulheres roliças vi eu? Duas. Apenas duas! Pronto, agora vai passar a haver três. Primeiro pensei que de facto, as únicas mulheres que exibem as curvas naquele lugar de altíssimo grau de exposição corporal são as já de si magras. Depois convenci-me que algumas daquelas beldades já foram um dia assim... gorduchas, e que o que vi ali agora foi o resultado de um grande esforço!
Bem, adiante, de decisão tomada, convencida de que aquilo tudo não é assim tão complicado e que eu até já começava a perceber o esquema todo, paguei. Foi então que me deram um maravilhoso quadro numa folha A5, com os horários da ginástica. Eu esperava ler coisas como “Aeróbica”, “Cardio-fitness”, “Manutenção”... Em vez disso, aparecem-me as seguintes disciplinas: Stretching, Localizada, Step, Power Step, Gap, Super Gap, Método Pilates (??), Aero/Dance, Body Pump, Body Combat, Body Balance, Body Attack, Dance Jazz... Uff... Fiquei cansada só de ler. Haverá entre a criativa variedade de cursos universitários actualmente alguma licenciatura sobre isto que eu devia ter tirado?
Ainda assim, aqui estou eu agora, com o meu cartãozinho na carteira, totalmente intencionada a fazê-lo sair cá para fora algumas vezes por semana. Não sei se de facto conseguirei. Mas uma mulher tem que ser mais forte que a fraqueza da sua força de vontade. E se eles me vendem os lenços, tenho mesmo que experimentar para ver se consigo assoar este meu grande nariz.

Eu quero ser... o Vitor Baía!


Estava ontem à noite em frente à televisão, a assistir satisfeita à grande vitória do FC Porto – sim, que eu não gosto de futebol, mas fico sempre contente quando Portugal dá nas vistas pela positiva (coisa rara) – e ao ver os jogadores correr pelo campo, de taça na mão, subitamente atingiu-me: deve ser tão bom ser o Vitor Baía...! Palavra de honra, senti uma tal onda de inveja! Já viram bem? Um homem bem sucedido, talvez no auge da sua carreira, com toda a certeza rico, giro – saliente-se giro com’ó caraças e eu nunca tinha reparado, em plena forma, cheio de saúde, e ainda por cima um vencedor, guarda-redes e capitão de uma equipa vencedora.
Ao observar aquele sorriso (fantástico, por sinal) enquanto recebia a medalha, ao observar aquele orgulho em si mesmo ao erguer a taça perante milhares de pessoas, pude perceber que aquela sensação deve ser uma das melhores coisas do mundo. Para ele não interessa nada que o trabalho dele seja só agarrar bolas. Uma vitória na pele do Vitor deve ultrapassar quase tudo o que podemos imaginar. Já eu, monstrinho verde em frente ao écran, totalmente consciente de que aquela sensação me está totalmente vedada, vi-me de repente com uns belos e fortes cabelos pretos revoltos, um sorriso pepsodent, um corpo fabuloso, guarda-redes referência de um país e até de uma Europa, admirado por milhares (milhões?), com um prémio ao pescoço, outro maior nas mãos, e outro muito maior no bolso. Será por isto que as pessoas gostam de futebol? Porque além de fazerem parte um grupo, têm assim acesso a sensações impossíveis de outra forma?
É claro que também senti a manchazinha negra da frustração por, depois de todas as vitórias, não ir participar no Euro 2004... Um gajo bom como eu? Mas olha, livro-me de boa: pelo menos poderei continuar a dizer que para mim, 2004 foi um ano cheio de vitórias...
Eu já ADOREI futebol. Há 17 anos atrás, vibrei com cada segundo do jogo com o Bayern de Munique. Hoje acho que se dá demasiada importância ao futebol, e que tudo se desvirtuou. Ainda assim, ontem permiti-me por instantes ser o Vitor Baía. E, porra, gostei.

terça-feira, 25 de maio de 2004


Há dias assim. Em que o tempo parece ter ficado parado ali atrás, e nós não podemos continuar enquanto ele não nos alcançar. É como se tivéssemos chegado ao cimo de um monte, e ansiosos por nos deixarmos rolar no balanço, temos que parar ali, e manter o equilíbrio até que o tempo nos acompanhe.
E hoje é assim. Se o relógio à minha frente não fosse digital, diria conseguir ouvir o tic-tac do passar dos segundos, devagar, um de vez em quando, sem compasso, sem ritmo. E eu desejo ardentemente que passem estas horas lentas, para chegar àquelas horas velozes, às horas em que a vida de facto acontece, em que eu posso fazer dela o que quiser e não aquilo a que a rotina me obriga. Mas não faz sentido, pois não? Que anseie pelo passar das horas lentas, em vez de aproveitar para vivê-las. Que culpa tenho... o tempo brinca assim com a nossa vida. O nada demora tanto a passar. E o prazer passa sempre depressa demais!

segunda-feira, 24 de maio de 2004

Pano branco


Debaixo daquele pano estava tudo. Foi apenas um instante, um vislumbre, um segundo. Debaixo daquele pano estavam sonhos que não chegaram a acontecer, debaixo daquele pano estavam sentimentos que nunca chegaram a ser, debaixo daquele pano estavam sorrisos que nunca ninguém chegou a ver, tantas palavras que nunca ninguém chegou a ouvir, tantos beijos que alguém nunca chegou a receber, amor que alguém nunca chegou a ter. Debaixo daquele pano branco ficaram tantos dias, tantas horas e minutos nunca chegados a existir. Ficou a certeza de tanto tempo por viver. Ficou um futuro que nunca foi. Ficou o lugar aonde nunca chegou. Ficou a eterna espera de quem nunca mais voltou a vê-lo. Ficou a alegria de gente que a perdeu para sempre. Ficou a ilusão de ser imortal.
Bastou um segundo. E enquanto os meus olhos passavam num vislumbre sobre aquele pano branco, fina barreira entre mim e o fim que encobria, e o meu corpo se contraía num arrepio convulsivo, eu vi tudo o que ficou debaixo daquele pano branco. E os meus olhos encheram-se de lágrimas pelo nada que ali ficou. Debaixo daquele pano branco. Num segundo era o futuro, no outro um passado perdido. Num, uma vida, no outro um corpo desfeito, debaixo de um pano branco.
Ontem, na A22, pelas 17h20, enquanto eu piscava os olhos, enquanto tu bocejavas, enquanto ela sorria, enquanto eles se beijavam, mais um jovem extinguiu a vida, porque escolheu viver como imortal. Ele nunca chegou a saber que estava enganado. Mas a prova ficou ali, para todos nós vermos, debaixo daquele pano branco.

quinta-feira, 13 de maio de 2004

Macarrão ou Mini-saia?


Mais uma manhã. O pobre despertador fez o seu monumental esforço para acordá-la – tocou umas dez vezes. Mais uma vez foi derrotado pela gata e os seus incrivelmente projectados miados do cio. Depois de algumas tentativas falhadas para a mandar calar, rendeu-se à evidência de ter que se levantar e, de olhos meio fechados, sentou-se na cama, enfiou os pés nas pantufas, agarrou no comando da televisão e quando se pôs de pé, já tinha a voz da pivot da manhã a atirar-lhe com as notícias do trânsito. Como se as filas intermináveis e os acidentes ainda pudessem ser notícia.
A caminho do quarto-de-banho, viu passar no espelho um vulto desconhecido, grande e largo, que parecia arrastar-se sem energia. Ainda com o comando na mão, e sem se voltar para a televisão, mudou de canal, antes de o deixar em cima da cómoda. Enquanto lavava os dentes, ouviu a história de mais uma mulher feliz, que perdeu 10 quilos em dois meses. Tanta promessa de uma vida diferente, de ser atraente, de poder vestir todos os tipos de roupa, de tudo lhe assentar bem... Ainda assim, espreitou, de escova na boca, para ver as fantásticas fotos do antes/depois. Uau... Será verdade...? Parece verdade...
Veio ao quarto deixar o pijama e mais uma vez deixou-se parar uns momentos só para ver os senhores musculados e as senhoras bem torneadas a correrem nos aparelhómetros de impacto físico 0%, resultado físico 100%. Uff, parece cansativo... mas... também parece funcionar... E depois de mais uma fotografia antes/depois, voltou a mudar de canal e foi para o banho lavar a inveja.
Debaixo da água quente, olhou para baixo e... Céus, desde quando tenho que me inclinar para a frente para ver bem os... pés? De onde me veio esta barriga de pintura barroca que não estava aqui há dois anos? Não. Não. Ela até era fã da pintura barroca. E as mamas, quem deixara entrar ar lá para dentro? Argh...
Do banho para o guarda-vestidos. Guarda roupa reduzido a algumas peças, com a maior parte pendurada nos cabides do fundo, à espera de voltar a caber nela. Suspirou. Ora bem, o que é que me cobre o rabo, o que é que não me aperta as mamas, o que é que ainda me marca a cintura... Pelo espelho vê a terceira fotografia antes/depois. E a quarta, a quinta... Uau... Desta vez não há promessas, há um desafio. “Você consegue? Mudar os seus hábitos, fazer exercício, durante 12 semanas? Inscreva-se! Vá a www.getwiththeprogram.org e aceite o desafio! Assine um contrato consigo mesmo!”.
Contemplou-se. As sombrazinhas de celulite nas pernas. Desde quando havia tanto dela no mundo? Desde quando tinha passado a ser duas?? Virou-se. Céus, como foi isso tudo parar aí atrás?? No écran da televisão, as recém magras. E nesse momento decidiu! Vou começar a fazer caminhadas, não vou comer fritos, não vou comer doces nem enchidos, nem pizzas nem McDonalds, vou beber muita água, em suma: Dieta e Exercício! Vestiu-se, tomou um pequeno-almoço saudável e sem calorias, e quando saiu de casa naquele dia, até já se sentia um pouco mais elegante, só por ter tomado a decisão. E andou assim, de espírito determinado e garrafa de água por perto, até à hora de almoço. Então chegou o almoço. E os vários restaurantes por onde escolher. E as inúmeras tentações. Tagliatelles com queijo, bacalhau com natas, crepes chineses fritos, alheira e batata frita, enchiladas mexicanas... o apetite a aguçar, os colegas esfomeados a querer comer, e ela? Depois de uma longa manhã de árduo trabalho, ia consolar-se com o quê? Uma posta de peixe grelhado com salada, acompanhada de água, e uma maçã para sobremesa? E ia ser assim durante quanto tempo? Para sempre? A determinação começou a vergar. Já sentia as ancas a aumentar, as mamas a insuflar, a barriga a descair...! Viu os botões da camisa começarem a saltar, as costuras das calças a rebentar...! E foi então que ela teve que tomar a verdadeira decisão. O que é lhe dava de facto mais prazer: vestir roupas bonitas... ou comer?

terça-feira, 11 de maio de 2004

Sem exclamações


Estava contente. Estava tão contente. Mas era assim que ele se permitia senti-lo. Sem exclamações. Se a vida lhe tinha ensinado uma coisa boa era que devia sempre fazer as coisas, mesmo que houvesse grande probabilidade de não resultarem. E se lhe tinha ensinado uma coisa má era a não extravasar a alegria. A expectativa de uma coisa que tanto pode vir a ser a melhor coisa que lhe aconteceu como a mais frustrante tinha que ser contida, abafada, sufocada dentro dele até ir perdendo a força e o tamanho, e tornar-se quase num pequeno nada, uma pequenina memória que já mal lhe faz palpitar o coração.
Naquela manhã tinha tido a resposta que fingira a si mesmo não esperar. Não tinha contado a ninguém o que tentara. Não pusera em palavras o que pretendia. Não tinha dito a si mesmo que tinha esperança. Até quase conseguira fazer-se esquecer. Mas a cada minuto das horas e dos dias que passaram, teve ali constante aquela presençazinha, como uma minúscula faísca sempre a querer acender-se. A esperança, essa maldita que ele se tinha ensinado a não ter, a quem decidira nunca mais se vender. A desilusão era um preço demasiado doloroso, e a sua alma já não tinha mais forma de pagar.
Naquela manhã, sentou-se como todos os dias à secretária, com os pés sobre a esperança para ela não se levantar, rodeado da resignação de mais um dia vazio, abriu o email e... As palavras que leu entraram-lhe pelo corpo como uma bola de ar, que se lhe alojou no peito e começou a encher, a encher, a encher sem controlo! Não! Não! A esperança! Não podia...! Mas qual quê, ao mesmo tempo já tinha a cabeça cheia de pensamentos e o coração vazio de precauções! Num instante já tinha pensado a quantas pessoas queria contar! Num instante já tinha imaginado anos da sua vida para a frente! Já tinha imaginado o seu caminho a mudar, já tinha imaginado o seu sonho a realizar-se. Já tinha pensado aquilo que evitava mais que tudo: “é possível”.
Parou, fechou os olhos e respirou fundo, para ver se aquilo saía de dentro dele. Ao princípio ficou, depois esmoreceu um bocadinho, depois mais um bocadinho... Obrigou-se a perceber que não era nada, nada de especial. Apenas mais uma pequenina coisa, que vinha e ia, sem deixar marca, sem mudar nada. Era assim que tinha que viver, aceitando que nunca nada ia ser diferente, especial. Sem expectativa, nunca nada o poderia desiludir.
Ficou sem saber o que fazer. Já mal lhe palpitava o coração. Responder à resposta? Ou deixar-se para sempre pendurado naquelas palavras, na ilusão do que poderia ter sido?
As horas e os dias foram passando. Ao fim de todo este tempo de hesitação e medo, a definhar-lhe a esperança, começou a perder o sentido, a resposta. E se respondesse, voltaria a perder o controlo. Voltaria a correr o risco. E entre o pedacinho ínfimo da possibilidade, e a certeza total de não se desiludir, a escolha veio a ser clara com o passar do tempo.

Nunca mais voltou a ler as palavras. Deixou-as vagamente guardadas na memória do que não chegou a viver. E assim não voltou a ferir-se. E assim o tempo continuou a passar.

sábado, 8 de maio de 2004

Cheiro de bebé


Ser mulher para ela nunca tinha sido assim tão importante.
Os anos foram passando, e ela vivia aceitando ser adulta, e tudo o que isso acarreta, o trabalho, as responsabilidades, as toneladas de papel de que se passa a viver rodeado na carteira, nas gavetas em casa, no emprego, o auto-controlo, o realismo, a rotina.
Mas ao mesmo tempo permitia-se viver na pequenina certeza de que algures nas Caraíbas estava um barco de piratas onde um dia ainda ia embarcar, de que algures numa galáxia longínqua estava uma nave de batalha onde ela ainda venceria o mal, algures debaixo da terra estava escondido um portal que a levaria ao Egipto antigo, que algures numa terrinha do outro lado do oceano estava um cientista louco que a levaria ao futuro num carro voador, que algures numa ilha do pacífico iria descobrir um mundo pré-histórico regressado à vida, que por remota que fosse a possibilidade, um dia teria um encontro imediato com um ser de outro mundo.
E assim vivia, na sua inofensiva espécie de complexo de Peter Pan. Porque o mundo não podia ser assim tão cinzento, porque a vida não podia ser assim tão previsível e efémera. Devia haver lugares onde tudo fosse colorido, emocionante, e onde os finais fossem felizes. O mundo real fazia-lhe confusão. Não se identificava com quase nada do que via, era como se fosse de outro planeta, de outro tempo. Mas como era aqui que tinha vindo parar, adaptara-se. E num mundo em que quase tudo desilude, quase tudo se perde, ela escondia para si os lugares secretos, onde a imaginação não se abafa mas se vive e concretiza, e onde um dia, quem sabe, haveria de ir.
E o tempo foi passando, impondo aquelas coisas que se esperam da vida. Mas ela não mudou, ela não o sentiu passar. Esperava que o tempo lhe trouxesse as vontades que se esperam de uma mulher. Mas elas não vinham. Tinha a sensação de estar a ser empurrada para aquele horizonte que sempre tinha estado tão, tão longe. Não era suposto vir um dia a sua natureza de mulher à superfície? Onde estava ela? A criança que escondia e a mulher que parecia lutavam dentro dela, e ela não via maneira de as duas poderem ser uma só. Chegada àquele horizonte, uma delas teria que ficar para trás. E ela não saberia escolher.
Então, um dia, numa manhã de Primavera, o sol a convidar à felicidade, permitia-se os seus minutos diários de fantasia, quando de repente... aquele cheiro. Do ar que inspirou directo à alma. Despertou-lhe uma essência qualquer, que nunca tinha sabido ter dentro de si. Uma coisa muito diferente dos sonhos, algo primário, natural. Olhou sabendo já o que ia ver. O cheiro vinha daquele pequeno corpo irrequieto, das pequeninas mãos, dos grandes olhos atentos e curiosos, das palavras atabalhoadas e vivas, do sorriso puro. Não foi preciso mais que um instante para compreender. E quando pensou na criança e na mulher... quem sabe afinal elas tenham sempre coabitado.