domingo, 23 de março de 2008

Para cima ou para baixo?


Se há objecto que representa na perfeição a ancestral guerra dos sexos é o assento da sanita. Os homens querem-nos para cima, as mulheres exigem-nos para baixo. E porquê para baixo? Além de muito inestético, não passa pela cabeça dos homens como é desagradável entrar meia a dormir na casa-de-banho pela manhã e encostar as nalgas à louça fria. Pior ainda se por lá tiverem ficado algumas gotas inadvertidamente esquecidas pelo último utilizador masculino. Por isso, instituiu-se que a posição correcta do assento da sanita é: para baixo. E é de tal forma uma acção essencial que um assento para cima passou a significar um homem desleixado e bem a marimbar-se para as vontades femininas. Ao passo que um assento para baixo guarda um homem sensível e carinhoso, preocupado em agradar à mulher e às suas preferências.
Só há poucos dias me lembrei de ver a coisa pelo outro lado, a do homem. Porque raio há-de a sanita estar sempre pronta a ser utilizada pela mulher e nunca pelo homem? Sempre que o homem lá chegue, por muito aflitinho que esteja, tem sempre que lembra-se de levantar o assento, antes de se aliviar. E se por acaso se esquece do maldito assento, corre sério risco de deixar por lá vestígios muito pouco apreciados pela facção feminina. E quanto à estética, convenhamos, quantos dos visitantes das nossas casas se passeiam pela nossa casa-de-banho para ver as vistas? E quantos comentam com os amigos no dia seguinte “Vê lá tu que na casa do João e da Susana deixam o assento da sanita para cima.” O que lhes interessa é o vinho e as sobremesas.
Se calhar... só se calhar, não existe realmente nesta história um lado com razão. Mas... se somos nós que todas as semanas temos que levar com o TPM, a menstruação, a depilação... Se temos que parir e passar pela menopausa, e tantas outras coisas... Eu digo definitivamente: para baixo!

sábado, 15 de março de 2008

Virados para a frente

Talvez seja um cliché, mas os clichés têm a tendência a ser verdade. Tenho percebido que há por aí muita gente que vive no futuro. Concentrados no facto de que o tempo escoa. Receosos com a velocidade com que o tempo passa. Apavorados com a ideia de que talvez nunca realizem os seus sonhos, de que talvez não encontrem o que procuram. Ao invés de construírem, procurarem, perdem-se no medo por aquilo que não podem controlar: a passagem do tempo.
Vivem virados para a frente, nem percebem o momento em que têm os pés. Que é o mesmo que dizer que não vivem de facto. Que estão distraídos e nem notam a vida a passar-lhes ao lado.
O futuro não está nos sonhos nem nos medos nem nas palavras de uma vidente. O futuro está nas nossas acções do dia de hoje. Há uma parte do futuro que não está mesmo nas mãos de ninguém. Mas outra parte depende grandemente do que fazemos hoje. E é aí que a vida vale tudo o que vale. É aí que ela tem todo o brilho que lhe quisermos dar. Concentrarmo-nos no fim das coisas, no curso natural da vida, no escoar do tempo, nas imponderabilidades, é impregnar com uma carga negativa todos os dias em que temos a felicidade de existir.
Todos temos o direito de sentir medo, de vez em quando, de pensar demasiado, de sobre-racionalizar. Mas justamente por sentirmos sempre que o tempo é pouco, temos o dever de o agarrar com as duas mãos, e de viver para o dia. De construir, de rir, de amar, de sermos nós próprios. De nos entregarmos à vida sem timidez. Virados para o agora. Já. Para o depois ser ainda melhor.