sexta-feira, 23 de junho de 2006

Novo velho

Sinto-me quase acabada de nascer quando me dizem que o divórcio católico só passou a ser permitido a partir de 1975. Porque para mim é algo que sempre existiu, não me passava sequer pela cabeça que as pessoas em Portugal fossem obrigadas a ficar ligadas pelo casamento, mesmo que se abominassem. Mas sinto-me velha quando oiço um rapazola de 16 anos perguntar admirado “Mas os discos antigamente tocavam dos dois lados?”

segunda-feira, 19 de junho de 2006

E Figo falou

Nesta altura, navegar nos canais de televisão portugueses é ficar encurralado em Figos e Scolaris, debates de alto rigor científico-futebolístico, Merches e Ronaldos, resumos alargados de jogos, Decos e Pauletas, análises de olho clínico a cada passe de cada jogador, muitos replays dos poucos golos, e variadíssimos momentos criativos de portugueses a tentar responder a perguntas idiotas para as quais não há resposta inteligente possível.

Mas no meio disto tudo, escapava-me aqui uma lição importante do Futebol. Uma lição que finalmente apanhei quando Figo falou. Encurralada que estava, deixei ficar, sem muita atenção, na RTP, onde uma entrevista pré-Mundial saltitava entre Figo a conduzir e Figo no relvado. Quase tudo estava a ser apenas ruído de fundo, mas eis senão quando algumas palavras falaram alto e claro, me bateram nos ouvidos e encaixaram no cérebro. “Tento criar um bom ambiente.

Esse. Esse é o nosso grande mal. Sempre direccionados para tudo o que está mal, sempre concentrados nas falhas dos outros, sempre focados unicamente em nós, sempre determinados a criticar. Lucas tinha razão. Poderoso é o lado negro! Tão mais fácil ficar no escuro do que ir à procura do interruptor.

Faça ele ou não aquilo que prega, o Figo tem razão. É preciso funcionar em equipa. E para isso, todos os dias cada um tem que tentar criar um bom ambiente. E não há área da nossa vida em que isto não se aplique.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Quando alguém que detestamos faz algo que adoramos
(Coisas que eu devia ter sabido melhor)

Ela era (e é) das piores colegas de trabalho que se pode ter. Antipática, fria, indiferente, com uma deficiência grave de glóbulos de espírito de equipa no sangue, com sobretaxa no cérebro de vontade de não fazer nada,,e, ainda por cima, a dever pouco à inteligência.
Ele era (e é) um rapazola chamado Robbie Williams, cujo trabalho eu seguia desde o primeiro album, e que decidiu vir dar um concerto a Lisboa. Os bilhetes esgotaram com meses de antecedência. E eu fiquei de fora.
Um dia, alguém decidiu oferecer dois convites à dita colega. E para espanto de todos, esta decidiu dar-mos a mim.
Podem bem imaginar a minha indecisão...! A hesitação entre ceder ao desejo ou obedecer à honra. Marimbar-me para a honra e ver o que tanto queria. Abdicar do que queria para ficar de pé, sozinha em casa com a minha honra, na noite do concerto.
Mas, como bom ser humano que sou, a satisfação do prazer imediato teve a última palavra. E após vários dias de conflito interno, fechei o caso com “Que venha ao menos uma coisa de bom dela.” e “Talvez ela tenha mudado.”
Foram duas horas de um dos melhores concertos que já vi. No fim da noite dizia-me orgulhosa “Fizeste bem em engolir a tua honra por uma vez, ou não terias vivido o que viveste”.
Erro. Monumental erro.
Já lá vão três anos. As más atitudes, os egoísmos, as arrogâncias, o mau profissinalismo, tudo se foi repetindo diariamente. Mas a cada vez que estou prestes a abrir a minha boca, imediatamente me vem à lembrança aquilo que lhe fiquei a dever. O dia em que ela foi simpática para mim. O dia em que aceitei algo dela, para meu benefício. Foi o dia em que perdi a moral para falar, em que perdi o direito de reclamar. Foi o dia em que ela ganhou poder sobre mim.
Nunca pensei que aquele concerto viesse a custar-me tão caro! Mas está aprendida a lição: nunca aceitar nada bom de gente má.