Fascina-me a ideia de que pode haver em mim a capacidade inata de criar um ser humano. Deixa-me perplexa o facto de que poderei eventualmente construir um. E sem ter que pensar nisso uma única vez, sem ter que dar conscientemente uma única indicação. Um braço vai para aqui, outro para ali, dois olhos, um nariz, uma boca, agora aqui vou moldar um rim, ali um coração a bater, sangue, veias, artérias, órgãos, mãos, pernas, pés, tendões, e ossos e músculos a segurar isto tudo. Toda esta informação veio comigo. Existe cá dentro. Mas eu não sei fazer nada disso! Nunca passaria num exame sobre o assunto.
Como é que você dá informação às células que vão constituir o cérebro do bebé? Não faço ideia!
Quantas células são necessárias para construir um útero? Não sei, não sei! Mas de alguma forma elas lá recebem a informação e tentam alcançar os seus lugares. É muito estranho ter uma capacidade destas, chegar ao mundo com toda esta programação que não se controla. Ah, e se nos lembrarmos de construir uma menina, ainda temos que lhe passar toda essa informação a ela, para que ela um dia venha a fazer o mesmo!
Depois vai-se à ecografia, olha-se para o pequeno televisor e é como se se estivesse a assistir a um filme dentro da própria barriga, mas feito por outro realizador qualquer.
São privilégios de Pai Natal, devemos ter os nossos próprios duendes atarefados a trabalhar cá dentro, sem descanso, 24 horas por dia, durante nove meses. E depois anda-se por aí, com um ser humano na barriga, que come, que se mexe, e que aumenta de tamanho dentro da barraquinha que armámos para ele. Sem saber como. Sem manual de instruções. E como se não bastasse, no fim de tudo, de repente ainda sabemos fazer leite, que nos sai pelas mamas!
Como é que eu faço coisas tão complexas, se nunca aprendi?? A mim deixa-me perplexa.