terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Truques da mente

Sempre achei que os sonhos (aqueles filmes que passam na nossa cabeça enquanto dormimos) são uma espécie de manta de retalhos de restinhos de lugares, momentos, sentimentos, pessoas, ideias, medos, esperanças; tudo o que fomos, somos e poderemos vir a ser. Uma manta que é como um quadro, uma autobiografia inadvertida de nós. E ao fim de trinta e poucos anos a sonhar, ainda assim eles não cessam de me surpreender.
Eis senão quando que, há umas noites atrás, entra passeando-se sobre a minha manta um velho amigo. Daqueles que a vida, as circunstâncias, alguns erros e alguns corações verdes se encarregam de arrancar no nosso caminho e afastam para longe. Passei anos sem pensar nele, neste bom bom amigo, que me deu tantas horas felizes, tanto riso, tanto conforto. A quem dei o mesmo. E assim, de repente, sem justificação aparente, ele aparece-me pelo sonho dentro como se o tempo não tivesse passado. Para me mostrar uma coisa. Que lhe sinto a falta. Que numa altura em que acontecem coisas importantes, o lugar dele talvez ainda esteja afinal por ocupar. Que se calhar ele ainda devia andar por aqui, pela minha vida. Mas não. A vida não é assim. E hoje, ele só anda pelos meus sonhos. Talvez só pudesse ser mesmo assim. Que pena.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Coisas que o tempo mostra

A pessoa certa para nós não é exactamente aquela que desejávamos, mas exactamente aquela que precisávamos.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

A cada hora que passa, os radares da VCI apanham 36 condutores em excesso de velocidade. Só consigo dizer uma coisa. É preciso ser mesmo muitA estúpido.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Às vezes é preciso vir alguém de fora para nos fazer ver o que estava bem debaixo do nosso nariz mas nunca tinhamos conseguido perceber.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Coisas do outro mundo

Já passava das 20h00 e o Lidl tinha filas de gente nas caixas para pagar. Eu gosto do Lidl. Descobri-o há pouco tempo e adorei. Está bem, não tem a organização e o aspecto dos Continentes e dos Pingo Doce. E não tem pão fresco. E os sacos de plástico são pagos (medida excelente para conter os maluquinhos dos sacos de plástico, que acham que em cada saco só cabe um artigo). Mas tem uma variedade infinita de produtos diferentes de todos os outros. Quando lá fui a primeira vez, senti-me de repente a fazer compras algures num país nórdico, e tive vontade de tirar coisas de todas as prateleiras e arcas frigoríficas, para poder provar de tudo. Recomendo vivamente as batatas fritas, as melhores que já provei e incrivelmente mais baratas! O problema é que se comem depressa.
Mas ontem experimentei lá (por acaso) algo do outro mundo. Eram três filas consideravelmente longas e eu trazia sete ou oito artigos ao colo, tentando segurar os dois litros de Coca Cola com dois dedos. À minha frente, um carro repleto de artigos. Ainda não tinha acabado de pensar “Não vou conseguir aguentar isto tudo nas mãos...”, o senhor à minha frente dirige-se a mim e diz “Passe à frente. Pode passar à frente que eu tenho muita coisa.”
?!?!?
Bom, ou eu estou tão tão gorda que ele pensa que eu estou grávida... ou então... foi simpático!
Sim, porque as filas de Supermercado são um daqueles sítios onde as pessoas parecem estar numa corrida de Fórmula 1. Olham desconfiados uns para os outros, a ver quem anda mais depressa, tentam detectar uma caixa que despache mais rapidamente para se mudarem para lá primeiro que os outros, e se abre uma caixa nova, qual ordem qual quê!, correm avidamente a tentarem ultrapassar-se como se a sua vida dependesse disso.
Este Senhor não. Caído com certeza de outro mundo qualquer, conseguiu espantar-me genuinamente. Tanto que acabei mesmo por deixar cair a Coca-Cola para cima do leitor dos códigos de barras (duas vezes) e atrasei o casal que ia à minha frente.
Mas foi um dia para a História. Ontem encontrei um Senhor civilizado. Experiência a raiar os encontros imediatos do 3º grau.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Pausa

Era o botão que eu mais utilizaria se tivesse um daqueles controlos remotos a que o Adam Sandler deitou a mão (o trailer bastou para saber a história toda). Mais do que andar para trás ou para a frente, muitas vezes o que mais fazia falta eram uns segundos a mais. Porque demasiadas vezes nos dizem coisas às quais temos que reagir em décimos de segundo, coisas dúbias que temos que interpretar num estalar de dedos. É nestas alturas que se dão os maiores erros de avaliação e, por isso, saiem a maior parte das palavras erradas. A pausa permitir-nos-ia reflectir e decidir a reacção, mesmo que fosse ela não reagir de todo. Muitas vezes esse teria sido o melhor caminho. Outras vezes o crime seria ficar em silêncio. Mas com a falta de tempo, e o receio de perder a oportunidade de responder ao que muitas vezes tem que ter resposta, lá saiem as palavras mal medidas, as respostas mal baseadas, as reacções infundadas. Ou então o silêncio bacoco de quem demorou demasiado a perceber.
Hoje teria sido um dia particularmente necessitado de Pausas. Umas vezes disse o que não devia, outras calei-me quando devia ter falado. Mas sem o bendito botão, não nos vamos livrar nunca de ter dias assim.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Um monstro chamado Estação de Brincar



É uma felicidade só acreditarmos em monstros quando somos pequenos. Seja os debaixo da cama, dentro do armário, no escuro ou no telhado, quando crescemos percebemos que não é uma questão de acreditar, que há mesmo monstros, mas que eles caminham entre nós, à primeira iguaizinhos a nós, e que nunca vamos conseguir livrar-nos deles, porque eles vão sempre ter os seus agentes inflitrados, quer seja no local de trabalho ou no seio familiar, na estrada para casa, no autocarro ou na repartição pública.
Azar, claro, para os que, como eu, nunca cresceram. Porque mesmo crescidinhos, além dos já mencionados, há sempre mais um monstrinho ou outro que continua a saber o nosso nome e morada, e que faz o seu regresso quando menos esperamos.
O meu monstrinho chamava-se Consola de Jogos. Há muitos muitos anos, era eu uma adolescente, cheguei a ter uma Sega Saturn e joguei o Tomb Raider 1 orgulhosamente até ao final! Má escolha, porque a Saturn evaporou-se do mercado e eu fiquei de mãos a abanar. Nestes anos todos, passei muitas vezes uns olhos sonhadores pelas placas dos preços da PlayStation1, da XBox, da PlayStaton2... Mas os valores, também eles, eram monstruosos e afugentaram-me para longe.
Eis senão quando, este Natal, entro na Worten e vejo a Estação de Brincar2 a 119 Euros. A vantagem de pertencer ao Clube dos Que Nunca Cresceram é que não tenho que esperar para ter filhos, para depois lhes pôr no sapatinho as prendas que secretamente desejo para mim. E foi assim que se me veio parar ao meu nº 39 a maravilhosa PlayStation2.
Ingénua, sem saber o que se avizinhava, sentei-me a jogar o FIFA07. Foi só preciso carregar o botão de “On” para perceber que tinha levado um monstro para casa. Começou pelo facto de que aquilo não traz cartão de memória, pelo que esquece tudo o que fazemos. Obrigatório ir à loja comprar um (e é tão barato...). Mas o espírito, agora enebriado, começa a aperceber-se de que o céu não tem limites. E rapidamente dou por mim a passear pelas prateleiras de jogos das lojas, sedenta de novas experiências. Num ápice entram lá em casa o Star Wars e o Tom Raider – Angel of Darkness: monstrinhos filhos do monstro-mãe. E sinto que os próximos monstrinhos já estão em gestação.
Não há nada fazer. Uma vez abertas as portas a esta família de monstros, reprodutiva como coelhos, comedores de tempo e dinheiro, não há voltar atrás. Estamos apanhados.
Pá, mas que é bués fixe, lá isso é!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Realidade alternativa



A cidade devia ser sempre assim como estava ontem. Espaçosa, calma, silenciosa, lenta, tranquila. Quase parecia um lugar onde até se poderia viver bem.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Psicologicamente novo

É só uma data, um segundo como outro qualquer, porque na verdade continuamos a ser os mesmos do segundo anterior, não houve nenhuma quebra, nenhuma interrupção, nenhum voltar ao início. Mas quando mudamos de ano, há realmente a sensação de que se recomeçou. E recomeçar é voltar a sentir a possibilidade de fazermos o que nunca fizémos, de mudarmos o que ainda não mudámos. De criar nova disciplina, organizar prioridades, destacar novas – ou antigas – metas. E evitar repetir os erros. Tudo no sentido de melhorarmos e de agarrarmos mais a vida.
É um facto de que grande parte das vezes os planos são esquecidos, ou engolidos pela força da própria vida, ao fim de poucos dias de novo ano. Mas só esta sensação de recomeço, de uma nova oportunidade, muitas vezes basta para um novo alento, para sentir expectativa pelo futuro, para voltar a sentir que tudo é possível. E quem sabe tudo seja mesmo?