quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Adeus Sporting

Foi por acaso. Ouvi o Ivo dizer ao telefone que ia ao Campo Pequeno. Querendo acreditar que valia a pena dar-lhe o benefício da dúvida, fui ver que evento vai haver lá nesse dia. Encontrei isto:



Nos últimos tempos temos assistido a uma enorme tentativa de recuperar uma tradição primária, retrógrada e despropositada. Assistir ao patrocínio de tal coisa pelo Futebol – actualmente apenas um sub-produto do original desporto – é, no mínimo, decadente e ofensivo para quem tem um milímetro de consciência. Confesso que estou até agora perplexa, sem conseguir compreender o propósito de tudo isto. Muito menos entendo como uma celebração desportiva pode associar-se a algo tão anti-desportivo. Mais ainda, um clube com milhares e milhares de sócios e adeptos, teria no mínimo a obrigação de dar o exemplo. Em vez disso, promove uma das tradições que mais nos identifica com o terceiro mundo. E nos abre os olhos para o facto de que estamos muito mais atrás do que gostamos de pensar.
Já sei que não faço lá falta nenhuma. Mas garanto que hoje passou a haver um adepto a menos.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Simbioses



Há pessoas assim, que guardam nelas a nossa casa. Que guardam o lugar aonde sempre pertencemos, uma espécie de puzzle onde nós havemos de encaixar sempre, por muito que o tempo passe, por muito até que não quisessemos. Ela esteve sempre na minha vida, desde que começámos a pensar, quando crescemos, quando descobrimos que tinhamos sonhos iguais, quando os vivemos, quando me desiludiu, quando me fartei, quando virei costas, e nos anos todos em que só partilhámos Olás. Mas a vida é um ciclo, e não há volta a dar, ela faz parte do meu. Uma espécie de simbiose, para o mal e para o bem. Foram só precisos uns poucos minutos. Estar ao lado dela foi regressar a casa. Foi tudo outra vez. Foi o renascer daquela parceria, por debaixo das dúvidas, dos receios, da desconfiança, dos passinhos pequeninos, a equipa ainda estava lá. Como andar de bicicleta. Sentada ao lado dela, a reviver o que já tinha ficado lá para trás, surpreendeu-me a forma como ainda pensamos exactamente o mesmo, como não é preciso explicar o que pensamos.
O tempo desta vez é que me deu a volta. Apagou o mau e manteve surpreendentemente fresco o bom. E o bom era mesmo mesmo muito bom.
O mal disto dos ciclos é que corro o risco de voltar à parte da desilusão. Mas já desisti de negar, quer-me parecer que Deus tinha mesmo um objectivo em fazer as nossas vidas acontecer a poucos metros uma da outra. Ainda não sei qual, e não sei se um dia descobrirei. Mas como é mesmo assim, não vou mais remar contra a maré. Vou jogar para ver. Já passei a fase em que não fazia as coisas, só para não correr o risco de correrem mal.
Todos temos uma ou outra pessoa neste mundo que volta sempre, porque na verdade nunca se foi embora. E quem sabe, seja possível fazer com que o ciclo tenha um final diferente da primeira vez? Se bem que, a ver bem, nunca é um final...

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Tudo...!

Nova paixão acidental. Quando ouvi esta música ontem, fiquei paralisada a olhar para a televisão. Perplexa. A melodia absolutamente perfeita, e a voz... ahh, a voz... absoluto veludo. Qual Frank Sinatra, qual quê? Nascer com esta voz é absolutamente um dom divino. Ouvi-la é como comer um doce, agarrarem-nos pela mão e levarem-nos a passear no parque. Dá vontade de sorrir.

Este "Everything" é tudo que desejo numa música. Parece feita de propósito para me preencher todos os cantinhos da alma.
Sobremesa para apreciar sem barulho à volta, concentrados nas palavras e, de preferência, a ver as imagens:

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Abraço




Há poucas coisas no mundo assim tão boas. Expressa a profundidade de um sentimento como não há palavra, poema, música, olhar. Dar um abraço é envolver o outro no nosso carinho, e sermos envolvidos na reciprocidade. Acho até que naquele momento, mais breve ou mais longo, se atinge um estado ligeiramente acima do mortal. Os nossos pés ficam um nadinha acima do chão, e levamos o outro connosco.
Poderoso como é, é contudo subestimado. Era daquelas coisas para usar a torto e a direito, usar e abusar sem reservas, sempre que desse vontade, e não apenas em momentos de dor. Não apenas o amor da nossa vida, mas os vários amores das nossas vidas, aqueles que conseguiram ultrapassar as nossas barreiras e nos dão o desejo de os abraçar. Só porque existem.
Não falo daqueles abraços de circunstância, de palmadinhas nas costas. Falo dos abraços em que nos deixamos ficar, nem que seja por um segundo ou dois, aqueles em que fechamos os olhos e nos entregamos. Ali naquele instante dizem-se coisas mais do que alguma vez nos imaginámos capazes, às vezes que nem sabíamos conter.
Quando penso em abraços, lembro-me sempre do Rui, já lá vai tanto tempo. Que nos abraçava a todos e a cada um, sempre que lhe apetecia. E naqueles abraços nos fortaleceu a todos, nos fez sentir amparados e resguardados dentro de uma bolsa da carinho, que renovava sempre.
Nós não. Nós guardamos os abraços para nunca, abafamo-los e à vontade deles até se extinguirem. Às vezes vivemos anos com um abraço engasgado no nosso desejo, e quanto mais passa o tempo, menos coragem temos de o soltar.
Eu tinha um desses, preso aqui no meio do peito. Porque algumas vezes na vida temos a sorte de encontrar alguém que nos faz transbordar o peito de carinho, que é uma espécie de luz nos nossos dias. A consciência dessa sorte só pode expressar-se com um abraço. Mas eu tinha vergonha. Fugia deste abraço como o diabo da cruz, só por vergonha, só porque não é suposto abraçar alguém por razão nenhuma que não seja a vontade.
Foi assim que deixei passar anos com este abraço engasgado; para lidar com ele acabava por transmitir até a ideia contrária, de que não sentia nada da especial. Um abraço prisioneiro na minha vontade. Até hoje. Já o tinha ensaiado na cabeça tantas vezes...
Quando o vi chegar, inesperadamente, o meu coração deu um saltinho de alegria. Fiquei sentada quietinha, a pensar em como reagir. Mas era óbvio que este era o dia em que este abraço, à espera há tantos anos, ia finalmente soltar-se. Pus para trás todas as regras sociais assimiladas, esqueci toda a gente que nos rodeava, e finalmente... dei-lhe um abraço.
Bom, não foi um abraço de filme. Foi trapalhão, eu hesitante e envergonhada, ele, num instante perplexo, e no outro... feliz. Muito feliz. Disse-lhe o que nunca tinha sido capaz de dizer, com uma clareza assombrosa. Amigo.
Não sei porque é que guardamos tanto algo que produz tanto carinho. É daquelas poucas coisas que, ao darmos, recebemos a dobrar. Uma manifestação da existência da nossa alma e do poder que lhe tem a emoção.
Hoje foi o primeiro. Não será definitivamente o último.