N'outra

Esta época faz-me isto. Fico aqui sentada a olhar para o trabalho à minha espera e só penso "estou noutra". O telefone toca menos, os emails são menos, os embróglios são menos. E eu só penso "que interessa isto, o resto é muito mais importante". Não é bem preguiça, é um estado de marimbanço. Quero lá eu saber das chatices do trabalho. Do interessantíssimo documento de 52 páginas, totalmente incompleto e cheio de questões para resolver, que está aqui à espera que eu acabe de o ler. O resto é que interessa, tudo o que fica em stand by lá fora.

Faz-me pensar no "Na Roça com os Tachos". Fico sempre a olhar para aquele senhor de lenço à cabeça, feliz da vida com o seu fogãozinho, a colher de pau, a banana-pão, o Calu Mendes e a pedra para moer. E aquele ritmo de vida tranquilo, aquela falta de pressa, aquele espaço todo. As pessoas que passam lá por trás, a viver a vida devagar. Se calhar não têm aparelhagens, DVDs, computador, telemóvel, ar condicionado, carro... Pode não trazer riqueza, essa maneira de viver. Ou trará? Se calhar vivem. Nós coleccionamos tralha. E falta de tempo para o que interessa.

São estes...!

Os que mais me irritam são estes. Grandes defensores da natureza, indignados com a falta de civilização e a indiferença dos outros. Os primeiros a apontar o dedo a quem se marimba para a ecologia e vive sem achar que tem o dever de reciclar.

São estes que depois vejo displicentemente a atirar grandes quantidades de papel para o caixote do lixo, que afinal até está mesmo aqui junto à secretária, muito mais perto que o Ecoponto.

São estes que só me dão vontade de lhes pegar e espetar com eles no lixo orgânico. Estes é que o mundo não precisa definitivamente de reciclar.

A definição de cunha

Se eu fosse chefe de um departamento e nele houvesse uma vaga, quem escolheria eu para lá colocar? Um amigo meu que precisasse e eu soubesse ser competente? Ou um desconhecido de gravata e curriculum bem parecido?

Às vezes ponho-me a pensar se não é aqui que a definição de "cunha" se esbate.